A CABEÇA DE GUILHERME BOULOS
■ O entrevistado de hoje é Guilherme Boulos, pré-candidato do Psol à Presidência da República. Membro da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), diz que Moro fez política ao condenar Lula e que, se eleito, revogará medidas implementadas por Temer.
ODIA:
■ A esquerda se uniu contra a prisão de Lula (PT) e pelo direito de ele se candidatar. Mas há diferentes candidaturas nesse campo colocadas para a Presidência. Haverá confluência em torno de um único nome?
Boulos:
● O que está colocado hoje é uma unidade democrática diante dos vários retrocessos que o pais tem vivido. A esquerda está junta quando se trata de defender a democracia, mas preserva a sua diversidade. Existem projetos distintos, pontos de vista distintos no interior da esquerda. Isso é legítimo e saudável.
■ Sua filiação no Psol foi avalizada pelo Lula, com quem o senhor tem uma ótima relação. É mais fácil o PT apoiá-lo à Presidência ou o senhor apoiar um nome do PT? ■ Minha ida ao Psol não foi avalizada pelo Lula. Foi avalizada pelo Psol e pelo MTST, que compõe, junto com outros movimentos e setores da sociedade, a aliança que sustenta a nossa candidatura. PT e Psol têm candidaturas próprias à Presidência.
■ Por que o senhor quer ser presidente?
● O Brasil vive uma crise profunda. Queremos levar a voz da nossa indignação para dentro desse sistema político. A voz daqueles que não se sentem representados. A nossa candidatura representa uma aliança não com os velhos partidos, mas com movimentos sociais, intelectuais e artistas para um projeto de sociedade. Respeitamos as candidaturas de esquerda, mas existem diferenças. Somos os únicos do campo progressista que não participamos dos 13 anos de governo do PT. ■ Quais os erros do PT? ● Reconhecemos que houve avanços nesse período, mas também muitos limites, dentre os quais, não enfrentar a estrutura oligárquica do sistema político brasileiro. Aliás, muitos que participaram dos governos do PT não foram ao Sindicato dos Metalúrgicos no gesto de solidariedade contra a prisão do Lula. Nós não estivemos no momento da distribuição do poder, mas estávamos no momento da solidariedade.
■ Se eleito, qual a primeira medida que adotará? ● No dia 1º de janeiro de 2019, vamos convocar um plebiscito para revogar as medidas tomadas pelo governo ilegítimo de Michel Temer (MDB). Medidas que não tiveram o aval e a aprovação do povo brasileiro e que representam retrocesso profundo, como a nova legislação trabalhista.
■ O senhor é crítico da Lava Jato. Vê algum ponto positivo na operação? ● O problema da Lava Jato não é se dispor a investigar a corrupção. Esse é o seu mérito. O problema é politizar as investigações. O caso do Lula é uma expressão evidente disso. Condenação que foi feita para retirá-lo do processo eleitoral. Quando o juiz resolve fazer política, a democracia fica ferida. É preciso respeitar as garantias constitucionais, o amplo direito de defesa e que se condene com base em provas.