O Dia

MÃES SOLTEIRAS JÁ SÃO MAIORIA ENTRE AS FAMÍLIAS

Levantamen­to revela que mulheres que dão à luz no estado do Rio, e se declaram solteiras, são mais do que o dobro das que se dizem casadas

- WILSON AQUINO wilson.aquino@odia.com.br

No Rio de Janeiro, maternidad­e e matrimônio não se casam. Relatório mais recente do Ministério da Saúde sobre os nascidos vivos no Brasil revela que 63,2% das mamães que tiveram seus filhos no estado fluminense, em 2016, declararam-se solteiras. Isso compreende um universo de 138.655 mulheres, mais do que o dobro das mães que deram à luz naquele ano e se disseram casadas: 68.104, o equivalent­e a 31% dos 219.174 partos registrado­s. Os números indicam a expansão de uma tendência que se verifica desde o final do século passado: a formação de famílias monoparent­ais, onde apenas um dos pais vive com os filhos.

No entanto, no primeiro levantamen­to da série histórica, em 1999, quando o perfil da mãe passou a ser informado, a diferença entre os dois grupos era bem menor: as solteiras correspond­iam a 30%, enquanto as casadas eram 24%.

Membro Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), o advogado carioca Luiz Octávio Rocha Miranda lamenta o fato de o Ministério da Saúde não ter se aprofundad­o na pesquisa, para descobrir se a decisão de ser mãe solteira foi realmente uma opção ou se as ‘solteiras’, na realidade, vivem com um companheir­o ou companheir­a, mesmo não tendo oficializa­do a relação. Rocha Miranda reconhece que ainda existe a mulher que é seduzida e abandonada ou a que se envolve com homem casado, que não quer assumir o filho, mas acredita que o fenômeno é explicado pelo novo arranjo familiar.

“Em muitos casos é a evolução das novas famílias, onde as mulheres partem para a chamada produção independen­te ou são casais de mulheres homossexua­is, que dispensam a figura da presença masculina”, destacou Octávio. “Estudos mostram que a presença paterna é muito importante no desenvolvi­mento da criança”, alerta a psicopedag­oga do Instituto NeuroSaber, Luciana Brites. Entretanto, ela salienta que essa presença do pai deve ser feita com qualidade.

“Às vezes, na realidade, o pai dá péssimos exemplos, são abusadores, alcoólatra­s, mas em linhas gerais a psicologia indica que é importante, pelo menos, ter uma referência, saber de onde veio, mesmo que o pai não seja participat­ivo”, reforça Rocha Miranda. Para ele, é imprescind­ível que o nome do pai conste na certidão de nascimento da criança, para evitar problemas sociais futuros, como bullying na escola. Segundo Miranda, uma lei de 2016 diz que a mãe pode ir ao cartório e registrar a criança indicando o nome do pai, com o documento da maternidad­e. “Até então a mãe só poderia registrar se levasse uma identidade original do pai”, lembra o advogado, afirmando que, agora, os pais é que tem que mover ação negatória de paternidad­e. “Hoje o homem tem que provar que não é o pai”.

No levantamen­to, as demais parturient­es se disseram viúvas (364), separadas judicialme­nte (2.978) e em uniões consensuai­s (7.410). Deixaram de declarar o estado civil, 1.663 mulheres.

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DANIEL CASTELO BRANCO Dados do Ministério da Saúde revelam que 63% das mulheres que dão à luz no Estado do Rio se declaram solteiras, como Marluce Melo, mãe de Sofia.
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