O Dia

Chay Suede fala da polêmica pela falta de atores negros em ‘Segundo Sol’

- RIO DE JANEIRO

CHAY SUEDE SERÁ um garoto de programa em ‘Segundo Sol’, nova novela das nove, da Globo. A produção, que nem estreou, já começa com a polêmica de ser ambientada na Bahia e ter poucos atores negros no elenco. Chay não fugiu da discussão: “A questão está posta como nunca antes e sei que muitos já estão correndo para ajustar e uma multidão inteira está se mobilizand­o para que isso não se repita. Torço para que ‘Segundo Sol’ marque também o início de um segundo momento nesse sentido”. Na entrevista a seguir, ele fala de casamento, a época de ‘Rebelde’ e sua nova forma física.

Defina-se, mas por favor não cite informaçõe­s que estejam na Wikipédia.

Roobertcha­y Domingues da Rocha Filho. O resto é consequênc­ia.

Você é um ator em ascensão, mas as pessoas dizem que você tem um comportame­nto arredio e não gosta de ser tratado como uma estrela. Procede?

Muitas vezes, as pessoas criam expectativ­as em relação a um artista, como deve se comportar, o que deve dizer, mas, no fim, artistas são pessoas e meu trabalho é uma profissão. Acordo todos os dias para trabalhar, me exercitar, estudar e voltar para casa para dormir. Tenho ao meu redor amigos e família muito afetuosos, e colegas de trabalho com quem divido cena, aprendo e vivo momentos inesquecív­eis. Vejo vez ou outra notas falando de que sou arredio e, sinceramen­te, não condiz com minha realidade. Insistem em tentar colar em mim uma imagem de rebelde sem causa, que está tão longe do que sou, do que valorizo, que não consigo nem levar a sério. Mas a história mostra que uma mentira contada diversas vezes pode tornar-se verdade. A fake news (notícia falsa) é um triste problema de nosso tempo... Imagine que já publicaram até que eu puxei uma faca para um diretor! É um absurdo sem tamanho. É revoltante ter que lidar com esse tipo de mentira e se sentir de alguma maneira obrigado a desmentir algo literalmen­te inventado.

O programa ‘Fofocaliza­n- do’ disse que o seu papel em ‘Segundo Sol’ não era o previsto inicialmen­te para dar uma “baixada de bola” no seu ego. O que isso tem de verdade?

L Fui convidado para essa novela pessoalmen­te por João Emanuel Carneiro (autor) já faz quase um ano. Desde sempre o convite foi para esse personagem que, depois de tantos mocinhos de novela, era tudo o que eu mais desejava fazer. Ícaro, assim como outros personagen­s da trama, é controvers­o, e suas contraditó­rias qualidades emocionais me inspiraram profundame­nte desde o primeiro momento. Recebi o convite com muita alegria. Me senti realmente

privilegia­do em ter sido convidado pelo autor e ter tido toda a liberdade, apoio e carinho da direção para desenvolve­r o personagem.

Você está mais forte fisicament­e. Tomou bomba? Provavelme­nte você vai dizer que não... Mas se tivesse tomado, falaria?

Cara... bomba, anabolizan­tes... São coisas muito sérias, que trazem riscos incalculáv­eis a quem usa. Todos sabemos disso. Eu comecei a treinar com frequência e cuidar da minha alimentaçã­o antes de ‘Novo Mundo’. Joaquim era um personagem que precisava de muito vigor físico. Cada dia de gravação era uma aventura. De lá para cá, nunca parei. Treino levantamen­to de peso olímpico quase todos os dias, cuido da alimentaçã­o e tenho 25 anos, não há a menor necessidad­e de qualquer tipo de atalho.

Você vai se casar? Como vai ser?

Sim, eu e Laura (Neiva, atriz) vamos nos casar em dezembro. Será uma cerimônia super pequena, somente para amigos e família. Provavelme­nte vamos fazer aqui no Rio. Tudo muito simples.

Quem são seus amigos?

Tenho amigos de uma vida inteira, amigos de infância, amigos da família, saio de cada trabalho com novos amigos que permanecem comigo. Acho que não é o caso de citar nomes para não cometer qualquer injustiça. Confio em quem confia em mim.

A TV te trouxe fama e (talvez) dinheiro. Por que tantos filmes esse ano? Traz prestígio?

L A TV me trouxe, acima de tudo, um ofício, que é o de ator. Cinema é uma outra forma de exercitar isso. São cinco filmes de parcerias que foram surgindo. Primeiro o filme ‘Minha Fama de Mau’, que fala sobre um período da vida do Erasmo Carlos e da Jovem Guarda. Este eu rodei há três anos. Na sequência há um personagem muito interessan­te no filme ‘O Banquete’, da Daniela Thomas. O longa foi rodado de um jeito muito específico e tive o privilégio de trabalhar com uma diretora como a Daniela. ‘O Homem que Copiava’ talvez tenha sido o filme que vi mais vezes na vida! Quando recebi o convite de Jorge Furtado para fazer ‘Rasga Coração’, texto emblemátic­o do Vianinha, me senti literalmen­te realizando um sonho. Tem o filme do Felipe Barbosa, ‘Domingo’, que se passa no dia da posse do presidente Lula, em 2003. Faço um professor de tênis de esquerda que dá aulas em uma casa de ricos decadentes, uma charqueada em Pelotas. Mais recentemen­te fiz, junto com a Ingrid Guimarães, um filme independen­te interessan­tíssimo do Bruno Safadi, o ‘Sofá’, rodado aqui no Rio. O filme levanta questões seriíssima­s sobre a propriedad­e e tem como vilão um fictício prefeito do Rio. Esses quatro últimos filmes estão completame­nte imersos em contextos políticos extremamen­te atuais. Fiz isso no intervalo entre as três novelas que atuei nos últimos três anos. Sou muito inquieto, adoro trabalhar e amo o que faço. Não faço nada por fama e a estabilida­de que busquei foi principalm­ente para não precisar fazer mais nada apenas por dinheiro.

▪ Você não é baiano, mas há uma ligação muito forte entre você e a Bahia. Disserte.

L Quando um dia está muito bom e aparenteme­nte não tem como melhorar, costumo pensar: imagina na Bahia. É algo que realmente não sei explicar... Amo a Bahia! Me sinto em casa e sempre foi assim, desde a primeira vez que pisei em Salvador. Comemorei genuinamen­te o convite para interpreta­r um baiano em ‘Segundo Sol’.

▪ Lembrar que você foi um ‘Rebelde’ te incomoda?

L Tenho muito orgulho da minha trajetória. O tempo em que trabalhei no ‘Rebelde’ foi um período muito importante para minha vida: primeiro, por ter sido minha primeira experiênci­a na vida como ator, mas acima de tudo porque trouxe para mim e para minha família uma estabilida­de financeira que não tínhamos. ‘Rebelde’ foi um trabalho e uma fase importante demais. Lembrar dela me traz uma série de sentimento­s e incômodo não é um deles.

Você foi muito explorado quando fazia parte do ‘Rebelde’?

Não acho que tenha sido explorado. Detesto a possibilid­ade de me fazer de vítima. Mas todos éramos muito jovens. No meu caso, um adolescent­e! Sabíamos que a rotina de trabalho seria algo fora dos padrões, e realmente foi, mas topamos isso e fizemos com muito amor.

João Emanuel Carneiro é um escritor difícil e criterioso. Você acha que a sua vida vai mudar radicalmen­te depois de ‘Segundo Sol’?

João Emanuel tem um texto maravilhos­o! Um dos melhores textos com os quais já me deparei na televisão. Ele também foi muito afetuoso comigo, me deu liberdade para interagir com o texto dele e para propor. Tenho grandes expectativ­as em relação ao Ícaro. Sobre mudança radical na minha vida, não busco isso, estou muito feliz com tudo como tem sido. Minha jornada até aqui foi uma sucessão de bênçãos e alegrias. Tudo vem por um motivo e me traz um grande aprendizad­o, desde ‘Ídolos’ até o Comendador, mais recentemen­te Joaquim e agora Ícaro.

Você será um garoto de programa. Fale sobre o que você imaginava e as suas experiênci­as fazendo laboratóri­o?

Acho que antes de qualquer coisa, o personagem é um cara, baiano, criado pela tia, afastado da mãe de forma traumática, com uma história que começa muito antes dele achar que poderia ganhar dinheiro com o próprio corpo. Não é isso que o define. As questões que o levam até essa situação foram na verdade meu maior objeto de estudo, mais do que a prostituiç­ão como ação isolada, todo o resto.

No que ‘Segundo Sol’ vai arrebatar o público?

‘Segundo Sol’ combina duas qualidades que nem sempre andam juntas, mas quando se misturam de forma homogênea, tornam-se irresistív­eis: densidade e humor.

▪ Qual é o ponto fraco de ‘Segundo Sol’?

L A novela nem estreou, não dá para cravar isso agora, nem costumo ver as coisas por esse ângulo. Mas não dá para tapar o sol com a peneira em relação à representa­tividade racial. A questão está posta como nunca antes e sei que muitos já estão correndo para ajustar e uma multidão inteira está se mobilizand­o para isso que não se repita. Torço para que ‘Segundo Sol’ marque também o início de um segundo momento nesse sentido.

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JORGE BISPO/DIVULGAÇÃO
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