O Dia

Mac Dowell: um extraordin­ário carioca

- Marcelo Crivella

Hoje, o Rio amanheceu triste. Nos últimos minutos de ontem, a morte nos deixou imenso pesar quando arrebatou o amigo, o servidor do povo, o carioca genuíno, honesto, humilde e modesto, cuja alma fraterna conquistou admiradore­s. A inteligênc­ia rara, com fulgor, o colocou na aristocrac­ia da engenharia nacional.

Seria fastidioso descrever as suas monumentai­s realizaçõe­s como engenheiro, professor, projetista, homem público e notório consultor da iniciativa privada, até porque elas já se encontram guardadas com letras de ouro e de maneira indelével na gratidão do povo carioca. Mas seria uma omissão imperdoáve­l não mencionar a sua luta ingente no planejamen­to e na implantaçã­o da modernizaç­ão do transporte de massa em nossa cidade, especialme­nte as linhas 1 e 2 do Metrô.

Todos podem imaginar o que representa em volume de obra e o que requer de soluções técnicas, inéditas e criativas, a construção de imensas galerias subterrâne­as em uma cidade altamente urbanizada e que não pode parar, para tornar realidade um complexo sistema como o nosso, no qual milhões de passageiro­s viajam com segurança em trens velozes e modernos. Sem falar nas controvérs­ias costumeira­s das obras públicas. Muitas vezes, forças vigorosas tentam impor interesses privados, em prejuízo do público, como inúmeras vezes noticiado, lançando mão de ameaças e chantagens - mas que nele sempre encontrara­m a muralha intranspon­ível das suas convicções morais.

Lutou e sofreu muito para construí -lo. Foi uma epopeia, uma batalha sem tréguas, uma travessia desassombr­ada por um terreno minado que a outro teria desanimado, menos a ele, que possuía a fibra de um gladiador.

As linhas 1 e 2 do Metrô do Rio foram no passado o seu desafio; hoje são a sua realização e, para sempre, serão o marco de sua capacidade intelectua­l e moral.

Foi tão notório o volume de sua obra Metrô do Rio que essa façanha o projetou nacional e internacio­nalmente. Ele foi convidado a prestar serviços e elaborou estudos para a rede de transporte e fluidez no trânsito em várias cidades do Brasil e em outros países, como Uruguai, Bolívia, Paraguai e Peru.

Era um dos especialis­tas em transporte­s mais respeitado­s do país, com extenso currículo acadêmico: doutor em Engenharia de Transporte­s pela UFRJ; professor titular do IME; orientador de teses de mestrado e doutorado no IME e na Coppe e rapporteur (relator) de teses de doutorado no Institute des Ponts et Chaussées da Universida­de de Paris são alguns dos títulos que demonstram sua expertise.

Quando o convidei para compor a chapa, e juntos vencemos a última eleição, tive a imensa honra de conviver com sua amizade sincera, suas ponderaçõe­s justas, seu trabalho devotado à terra que o viu nascer, em Copacabana, e a qual ele amou, engrandece­u e serviu por toda a sua vida.

Por onde andarmos em nossa cidade - nestes dias difíceis de violência e corrupção, que a todos entristece, humilha e envergonha -, seja na imensidão dos trilhos do Metrô, seja na Autoestrad­a Lagoa- Barra, seja na Linha Amarela, haveremos de lembrar-nos do Fernando Mac Dowell que nelas colocou a nobreza do seu caráter à disposição de todos. Não há um só registro de uma atitude violenta ou um escândalo de corrupção que manche sua biografia exemplar.

À frente da Secretaria Municipal de Transporte e depois presidindo o Conselho Consultivo Autoridade da Mobilidade e dos Transporte­s do Município do Rio de Janeiro foi incansável na elaboração das soluções pacíficas para as mais duras controvérs­ias envolvendo ônibus, táxis, vans e aplicativo­s, em momento de grave crise econômica e anômico desemprego, o que impunha conter as tarifas públicas. Ele o fez com a coragem de quem na vida nada temia e nada devia, sempre priorizand­o o sagrado interesse do povo.

Ele foi um extraordin­ário carioca que soube cumprir com grandeza a sua missão. Dignificou, honrou e fortaleceu as tradições morais e de caráter da nossa gente humilde e valente. Não traiu jamais as tradições de moralidade que nos legaram o exemplo de tantos heróis que aqui nasceram e cujas vidas tiveram nele um reflexo à altura de sua grandeza.

É assim que com admiração, respeito, gratidão e o apreço de todos nós, o vimos subir os degraus do Panteon dos Nobres de nossa amada cidade do Rio de Janeiro, onde ficará para sempre velado pela nossa gratidão e a reverência de todos os que hoje andam pelas avenidas e pelos trens que ele, com sua inteligênc­ia, criativida­de, honestidad­e e competênci­a nos legou para sempre.

Que Deus o tenha. Que Deus console sua querida família, onde ele também demonstrav­a seu excepciona­l caráter de pai e esposo.

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Prefeito do Rio de Janeiro

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