O Dia

Obesidade infantil: um alerta

- Marcus Professor e jornalista Tavares

Ataxa de obesidade infantil no Brasil é alarmante. Pesquisas revelam que uma a cada três crianças tem obesidade. E o número não para de crescer. Agenda lotada, estresse, sedentaris­mo e uma alimentaçã­o pobre do ponto de vista nutriciona­l são algumas das causas possíveis. Promover ações de conscienti­zação das crianças e de seus pais/responsáve­is é fundamenta­l. Mas é preciso redobrar a atenção no desenvolvi­mento das campanhas publicitár­ias.

Nesta semana, observei que em diferentes pontos de ônibus da cidade há, naqueles totens iluminados, uma campanha publicitár­ia de uma grande rede de planos de saúde. A campanha intitulada ‘Obesidade infantil não’ traz o seguinte texto: “Quando ele fica demais no celular, não sobra espaço para mais nada”. Ao lado do texto, está um menino, fora dos atuais padrões de beleza, com aparência séria, segurando um skate. A campanha quer estimular a prática de atividade física e também deseja conscienti­zar os pais/responsáve­is a respeito do tempo que os seus filhos passam em frente às telas. Estima-se que as crianças brasileira­s fiquem, em média, 20 horas por semana conectadas às tecnologia­s.

A campanha só perde por um grande e significat­ivo detalhe: traz a imagem do menino, o rosto dele. A publicidad­e expõe a criança gratuitame­nte e ainda em contexto negativo. O garoto que aparece ali é identifica­do como uma criança gorda, que não pratica esportes, vive no celular e que, portanto, não é feliz. É como se quisesse dizer ‘olha, você não quer ser/ parecer com esse garoto, quer?”.

Infeliz iniciativa. Ofensiva e preconceit­uosa. Ainda mais em tempos de bullying. Fico me perguntand­o quem teve esta ideia? Quem criou a campanha não pensou no impacto que tal publicidad­e poderia ter para as crianças ‘protagonis­tas’ das peças publicitár­ias?

No site do projeto, é possível conferir outras crianças ‘personagen­s’. Não foram elas que se candidatar­am. Geralmente, as agências de publicidad­e entram em contato com agências de modelo/ator para buscar perfis que atendam aos interesses das peças publicitár­ias. Sabemos que os portfólios destas agências estão abarrotado­s de meninos e meninas, muitas vezes incentivad­os a participar pelos próprios pais. Os pais das crianças, que são menores de idade, na maioria das vezes ganham dinheiro para isso. Penso que as crianças/modelos ficam rezando para que ninguém os reconheça. Coitados. É assim que tratamos a infância no Brasil.

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