Mãe de Santo é expulsa da Cidade Alta e terreiro destruído
Templo e religiosa da comunidade de Cordovil foram atacados por traficantes
Traficantes expulsaram uma mãe de santo e depredaram um terreiro de candomblé que funcionava há 40 anos na Cidade Alta, em Cordovil, na Zona Norte. A ação dos criminosos, que são da facção Terceiro Comando Puro, ocorreu na madrugada de ontem. Armados, eles chegaram a levar a líder religiosa até o ponto de ônibus e ordenaram que ela não voltasse.
Com medo, ela não fez registro de ocorrência ou chamou a Polícia Militar. No entanto, a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa tomou conhecimento do ocorrido que informou que a mãe de santo passou mal e está internada em uma unidade hospitalar com pico de pressão alta. Frequentadores da casa e filhos de santo tiveram ainda que recolher as imagens quebradas. “Carregamos muito entulho. Vi erguer e tive o desprazer de ver (o terreiro) destruído”, disse um filho de santo, que pediu para não ser identificado. “Isso é um desrespeito, uma humilhação. Perdemos o direito de ir e vir, de escolha de ter fé naquilo que você crê”, completou.
Um morador enviou um relato ao WhatsApp do DIA (98762-8248) sobre o ocorrido. “Os bandidos disseram que ela ‘estava botando esse negócio de religião na comunidade’, que ela ‘sabia que não podia fazer isso’”, diz o relato de uma testemunha, que também não quis se identificar.
A religiosa pertence ao Ilê Asé Oya Omo Legy, em Mesquita, na Baixada Fluminense. Ainda conforme a testemunha, bandidos andam de moto com fuzil e pistola ameaçando os praticantes da religião e teriam proibido o uso de roupas totalmente brancas na comunidade. Uma das filhas de santo chegou ao local após o crime, foi avisada do
Secretaria de Direitos Humanos diz que ataques a religiosos aumentaram 56%
incidente e deixou a comunidade com medo de represálias. Outros religiosos foram expulsos no bairro.
“Lamentamos muito esse ocorrido, mais uma vez as religiões de matrizes africanas levam esse baque, e mais uma vez estamos a mercê da insegurança. De fato, isso vem acontecendo há muito tempo, e prova a falta de ação efetiva. Medidas sérias precisam ser tomadas”, afirmou o babalaô e interlocutor da comissão, Ivanir dos Santos.
Ainda neste mês, o Centro Espírita Caboclo Pena Branca, em Nova Iguaçu, foi depredado e incendiado por criminosos. Segundo a Secretaria de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos (SEDHMI), o estado do Rio registrou, neste ano, um aumento de 56% no número de casos de intolerância religiosa em comparação aos quatros primeiros meses de 2017. A SEDHMI diz ainda que foram 25 registros em 2018, contra 16 no mesmo período do ano passado. Ainda conforme a pasta, do início de 2017 até o dia 20 de abril deste ano, foram contabilizados 112 casos.