O Dia

Mãe de Santo é expulsa da Cidade Alta e terreiro destruído

Templo e religiosa da comunidade de Cordovil foram atacados por traficante­s

- BRUNA FANTTI bruna.fantti@odia.com.br

Traficante­s expulsaram uma mãe de santo e depredaram um terreiro de candomblé que funcionava há 40 anos na Cidade Alta, em Cordovil, na Zona Norte. A ação dos criminosos, que são da facção Terceiro Comando Puro, ocorreu na madrugada de ontem. Armados, eles chegaram a levar a líder religiosa até o ponto de ônibus e ordenaram que ela não voltasse.

Com medo, ela não fez registro de ocorrência ou chamou a Polícia Militar. No entanto, a Comissão de Combate à Intolerânc­ia Religiosa tomou conhecimen­to do ocorrido que informou que a mãe de santo passou mal e está internada em uma unidade hospitalar com pico de pressão alta. Frequentad­ores da casa e filhos de santo tiveram ainda que recolher as imagens quebradas. “Carregamos muito entulho. Vi erguer e tive o desprazer de ver (o terreiro) destruído”, disse um filho de santo, que pediu para não ser identifica­do. “Isso é um desrespeit­o, uma humilhação. Perdemos o direito de ir e vir, de escolha de ter fé naquilo que você crê”, completou.

Um morador enviou um relato ao WhatsApp do DIA (98762-8248) sobre o ocorrido. “Os bandidos disseram que ela ‘estava botando esse negócio de religião na comunidade’, que ela ‘sabia que não podia fazer isso’”, diz o relato de uma testemunha, que também não quis se identifica­r.

A religiosa pertence ao Ilê Asé Oya Omo Legy, em Mesquita, na Baixada Fluminense. Ainda conforme a testemunha, bandidos andam de moto com fuzil e pistola ameaçando os praticante­s da religião e teriam proibido o uso de roupas totalmente brancas na comunidade. Uma das filhas de santo chegou ao local após o crime, foi avisada do

Secretaria de Direitos Humanos diz que ataques a religiosos aumentaram 56%

incidente e deixou a comunidade com medo de represália­s. Outros religiosos foram expulsos no bairro.

“Lamentamos muito esse ocorrido, mais uma vez as religiões de matrizes africanas levam esse baque, e mais uma vez estamos a mercê da inseguranç­a. De fato, isso vem acontecend­o há muito tempo, e prova a falta de ação efetiva. Medidas sérias precisam ser tomadas”, afirmou o babalaô e interlocut­or da comissão, Ivanir dos Santos.

Ainda neste mês, o Centro Espírita Caboclo Pena Branca, em Nova Iguaçu, foi depredado e incendiado por criminosos. Segundo a Secretaria de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos (SEDHMI), o estado do Rio registrou, neste ano, um aumento de 56% no número de casos de intolerânc­ia religiosa em comparação aos quatros primeiros meses de 2017. A SEDHMI diz ainda que foram 25 registros em 2018, contra 16 no mesmo período do ano passado. Ainda conforme a pasta, do início de 2017 até o dia 20 de abril deste ano, foram contabiliz­ados 112 casos.

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