Competição estudantil tem caso de racismo
Integrantes da torcida do curso de Direito da PUC-Rio teriam jogado casca de banana em atleta, indignando a OAB, alunos e universidades
Estudantes de Direito da PUC-Rio foram afastados por um ano dos Jogos Jurídicos Estaduais por terem feito, durante a competição, ataques racistas contra adversários. Vídeos mostram jovens jogando casca de banana em quadra e imitando macaco para provocar atletas negros de outros times. Aluno da PUC, Leonne Gabriel conta que já foi vítima de racismo dentro da universidade. Ele denunciou o caso à polícia.
Racismo em nível superior. A comunidade acadêmica fluminense ficou pasma com as denúncias de ofensas racistas feitas por estudantes de Direito da PUC-Rio, no sábado passado, durante os Jogos Jurídicos Estaduais, em Petrópolis. Alunos da PUC-Rio teriam cometido atos de racismo e injúria racial, em três oportunidades, contra alunos negros da Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Uerj e UFF.
Segundo testemunhas, o primeiro caso, alunos da PUC atiraram uma casca de banana contra um estudante negro da UCP, durante partida de futebol. Depois, após um jogo de basquete masculino, membros da delegação da PUC-Rio imitaram macacos para ofender estudantes da Uerj. Na quadra de handebol, o alvo foi uma aluna da Uerj, chamada de “macaca” pela torcida da PUC.
A Uerj e a UFF emitiram notas repudiando as manifestações racistas. “É absolutamente inadmissível que atos como esses ainda possam ocorrer, especialmente por envolver estudantes de Direito. Considerando que o racismo é crime, não podemos nos furtar de exigir a devida investigação desses fatos e rigorosa punição, devendo ser assegurada ampla defesa dos envolvidos”, afirmou a Uerj, em comunicado assinado pela reitoria. A UFF disse que acompanha “com preocupação e indignação os relatos” e colocou a estrutura da universidade à disposição das vítimas.
A PUC, também em nota, garantiu que instituiu uma “Comissão Disciplinar para averiguação das informações e, caso confirmada a veracidade, a apuração e individualização das responsabilidades de membros do corpo discente”. De acordo com o delegado Cláudio Batista Teixeira, da Delegacia de Petrópolis, até a noite de ontem, nenhuma das vítimas registrou queixa. “O crime é de ação penal pública condicionada. Ou seja, precisamos que a pessoa venha até a delegacia para fazer o registro. Esses alunos têm que se manifestar”, explicou o delegado. Para o presidente da Comissão Especial de Estudos de Processo Constitucional da OAB/RJ, Rodrigo Pessanha, garantiu que a Ordem vai acompanhar os desdobramento do caso. “São os futuros advogados, juízes, promotores. E se o racismo é sempre inadmissível, vindo dos operadores do Direito é ainda mais grave a situação”.
A estudante de Direito da Uerj, Raiza Uveda, de 21 anos, uma das organizadoras e fundadoras do Coletivo Jogos sem Racismo testemunhou as injúrias raciais. “Nós ficamos revoltados por causa do que aconteceu no sábado, quando jogaram uma casca de banana no menino da UCP. Há muito tempo cobranças já estavam sendo feitas para que alguma medida fosse tomada contra o racismo nos jogos. A torcida da Uerj gritava “PUC racista” e eles respondiam com xingamentos”, contou Raiza. Renata Azevedo, aluna do 5º período de Direito da Uerj disse que frequenta os Jogos Jurídicos há quatro anos e nada foi feito para combater. “Não me surpreende vindo de onde veio. Frequento desde o meu primeiro período e sempre teve racismo neste campeonato. A Liga nunca fez nada para impedir. É necessário que uma punição forte e efetiva seja feita para combater esse crime”, defendeu. A Liga Jurídica Estadual, que organiza os Jogos, retirou o título de campeão geral da competição e suspendeu a participação da PUC-Rio da próxima edição.
São os futuros advogados, juízes, promotores. E se o racismo é inadmissível, vindo dos operadores do Direito é mais grave
RODRIGO PESSANHA, OAB
Considerando que o racismo é crime, não podemos nos furtar de exigir a devida investigação desses fatos e rigorosa punição
UERJ, em nota
Reportagem de Adriano Araújo, Rafael Nascimento e Wilson Aquino