O Dia

PERGUNTAS SEM RESPOSTAS:

Questões encaminhad­as por O DIA à Secretaria de Segurança sobre a operação na Maré que não foram respondida­s

- NADEDJA CALADO nadedja.calado@odia.com.br Colaborou Bruna Fantti

1 A Secretaria de Segurança considera que atirar do alto de um helicópter­o sobre uma área altamente povoada é uma prática padrão?

2 Não seria mais seguro e eficaz usar os recursos de inteligênc­ia policial para prender traficante­s, no lugar de fazer operações que colocam em risco a vida dos moradores?

3 Nos casos em que é inevitável a realização de operações, é tão difícil tomar precauções que preservem a vida de inocentes?

Mais de 24 horas após a morte do estudante Marcos Vinícius da Silva, de 14 anos, durante operação policial no Complexo da Maré, a cúpula da Segurança Pública se mantém em silêncio. Não há explicaçõe­s ou pedido de desculpas para a família do jovem, cujo corpo foi velado no Palácio da Cidade, coberto com a blusa de escola ensanguent­ada.

“Essa é a bandeira do meu filho, vai ser com esse pedacinho de pano que eu vou pedir justiça para o meu filho. Vou usar essa blusa aqui para pedir um país melhor, porque esse país está matando os inocentes, os inocentes estão sumindo. Isso aqui quem fez não foi a polícia desprepara­da, foi um policial desprepara­do”, declara a mãe do adolescent­e, a diarista Bruna Silva.

A operação da Polícia Civil na quarta, pela manhã, foi realizada por policiais da Delegacia de Combate às Drogas na busca por criminosos que mataram o chefe de investigaç­ões da especializ­ada, na semana passada. Com a apoio de tropas de elite e do Exército, a própria polícia descumpriu norma assinada pelo governo na qual se comprometi­a a não realizar operações em horário escolar.

Iniciada às 9h, a ação provocou tiroteios no Complexo da Maré. Marcos Vinícius estava a caminho da escola, quando um tiro de fuzil o atingiu. Segundo perícia preliminar, a bala entrou pelas costas e saiu pela barriga. Ainda vivo, conseguiu conversar com a mãe e apontou que o disparo foi de policiais. “Quando eu cheguei ele disse que viu quem atirou nele, que foi de um blindado. ‘Ele não viu que eu estava com roupa de escola, mãe?’, me perguntou”, disse Bruna.

Após baleado, outro drama: o atraso no socorro, que fez o secretário de Educação, Cesar Benjamin, clamar por telefone a cessão da operação ao secretário de Segurança, Richard Nunes. “Fiquei em contato direto com o secretário de Segurança solicitand­o a abertura das barreiras (para passagem da ambulância)”, disse. “Houve uma perda de mais ou menos uma hora nessa negociação. Talvez essa hora tenha sido fatal”. O jovem entrou às 10h na UPA da Maré, horário em que os médicos pediram sua transferên­cia para o Hospital Getú- lio Vargas, onde só chegou às 11h23. O prefeito Marcelo Crivella também criticou a ação da polícia. “Não aguentamos mais ver crianças inocentes morrendo em tiroteios que a experiênci­a mostra terem tido pouco resultado no combate efetivo ao crime organizado”, disse Crivella.

O Ministério Público se reuniu com a Chefia da Polícia Civil e solicitou esclarecim­entos sobre o descumprim­ento das normas de operações; o relatório da operação e imagens realizadas. Também quer saber o motivo da ausência de ambulância no local, em descumprim­ento à decisão judicial. Moradores afirmaram que, do helicópter­o, policiais atiraram em direção à comunidade. Mais de 50 marcas de balas no chão foram contabiliz­ados. A Defensoria Pública informou que vai recorrer do pedido negado pela Justiça de proibir tiros a partir de helicópter­o sobre comunidade­s.

A Delegacia de Homicídios ouviu ontem os policiais envolvidos na operação. Em nota, a Polícia Civil disse que o uso do helicópter­o “se dá para a garantia da segurança de toda a população” e que não há registro de que alguém tenha sido atingido. O corpo do estudante foi enterrado ontem no São João Batista.

MP cobra explicaçõe­s da Polícia Civil. Moradores acusam tiros do helicópter­o

 ?? DANIEL CASTELO BRANCO ?? A diarista Bruna Silva estende a camisa ensanguent­ada sobre o caixão do filho Marcos Vinicius, de 14 anos, que foi morto com um tiro quando ia para a escola, na Maré. “Vou usar essa blusa aqui para pedir um país melhor, porque esse país está matando os inocentes”, desabafou.
DANIEL CASTELO BRANCO A diarista Bruna Silva estende a camisa ensanguent­ada sobre o caixão do filho Marcos Vinicius, de 14 anos, que foi morto com um tiro quando ia para a escola, na Maré. “Vou usar essa blusa aqui para pedir um país melhor, porque esse país está matando os inocentes”, desabafou.
 ?? DANIEL CASTELO BRANCO ?? A mãe de Marcos Vinícius se despede do filho no velório, no Palácio da Cidade. O corpo foi coberto com a blusa do colégio suja de sangue
DANIEL CASTELO BRANCO A mãe de Marcos Vinícius se despede do filho no velório, no Palácio da Cidade. O corpo foi coberto com a blusa do colégio suja de sangue
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DANIEL CASTELO BRANCO / AGÊNCIA O DIA
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Amigos e parentes prestaram homenagem ao adolescent­e durante o velório. Apesar da dor, a mãe de Marcos (esquerda), Bruna Silva, usou o uniforme do filho sujo de sangue e seus cadernos em protesto, para mostrar que ele ia para a escola
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REPRODUÇÃO FACEBOOK Guilherme, de 14 anos, foi morto após criminosos passarem atirando em Padre Miguel

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