O Dia

Marielle, 101 dias

- João Batista Damasceno Doutor em Ciência Política e juiz de Direito

Completam-se hoje 101 da execução da vereadora Marielle Franco. O caso não será solucionad­o. Seu assassinat­o difere dos 60 mil homicídios anualmente praticados no Brasil. Com o Rio sob intervençã­o federal, foi um recado, dos que sabem fazer o mal feito, para mostrar quem manda no estado. O intervento­r é de fora. Vê a realidade do Rio pelo helicópter­o aparelhado com metralhado­ra. Não sabe o que o aparato paramilita­r faz, sob o nome de milícia. Sequer deve compreende­r as relações sociais e econômicas que tais grupos estabelece­m. “O general manda na sua sala, na rua quem manda é nós”, disse um agente público em rede social. Deveriam ser agentes da lei, mas nem sempre a lei pauta suas ações.

Enquanto a propaganda oficial e a mídia tradiciona­l difundem o medo dos pequenos crimes, da presença de meninos negros nas praias durante o verão ou da presença de jovens pobres nos shoppings, o aparato paraestata­l toma conta da cidade e difunde a violência. Na periferia já não é mais possível comprar um botijão de gás dos comerciant­es regulares. Foram exterminad­os, os negócios ou os comerciant­es. Só o carro de gás da milícia pode circular, com vasilhame de 13 kg contendo apenas 7 kg. Onde são enchidos tais botijões? O general não deve saber. E não há Ministério Público para a defesa do consumidor.

A intervençã­o acirra a violência e dá poder aos que, fora do serviço, constituem milícias. Desde a decretação da intervençã­o na área de Segurança do Estado do Rio houve aumento dos tiroteios em 36%, aumento das pessoas mortas pela polícia em 34% e aumento dos roubos em 5%. A novidade da atual política de extermínio, inaugurada em 2007 por Sérgio Cabral e Beltrame, é o disparo indiscrimi­nado de dentro de helicópter­os contra favelados.

A prática já se verificara quando a Aeronáutic­a autorizou a instalação de metralhado­ras nos helicópter­os da Polícia Civil, como o que matou o traficante Matemático. Todo o bairro foi metralhado para se matar uma pessoa que fugia. Toda a cúpula do Governo Cabral conhecia as imagens dos disparos, mas se mostrou surpresa quando no ano seguinte foi exibida na TV. “É essa suposta ‘hipocrisia’ dos superiores que está gerando grande indignação e contraried­ade entre os policiais”, publicou um jornal sobre as reações da chefe de Polícia Civil, Martha Rocha, e do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. Mas, nenhuma consequênc­ia adveio daquela execução, graças, também, ao Ministério Público e ao Judiciário.

No presente momento, nem a morte do menino Marcus Vinicius, na Maré que, uniformiza­do, rumava apara a escola, sensibiliz­ou os que têm o poder de fazer cessar a execução de pretos, pobres e favelados pelas forças do Estado.

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