O Dia

A POLíTICA NAS REDES SOCIAIS

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Professor da Universida­de Federal do Espírito Santo e coordenado­r do Laboratóri­o de Estudos sobre Internet e Cultura, Fábio Malini, de 41 anos, dedica a maior parte do seu tempo à análise de padrões de dados ligados à política nas redes sociais. Em entrevista à Coluna, ele diz não acreditar que as fake news tenham a capacidade de influencia­r o eleitor na hora de votar.

“Por enquanto, não há evidência científica alguma de que elas foram decisivas, nem no Brasil, nem no cenário internacio­nal”, afirma. No entanto, Fábio Malini defende a investigaç­ão dos casos envolvendo notícias falsas durante o período eleitoral. Ele também alerta sobre os impulsiona­mentos de postagens por parte dos candidatos.

O DIA: As redes sociais têm o poder de eleger alguém hoje?

Sim. Nas proporcion­ais, cria-se uma onda de empatia. Em 2016, a vereadora Marielle Franco, no Rio, foi produto da onda do voto feminino a 15 dias da eleição. Nas majoritári­as, o candidato terá, além do impulsiona­mento das postagens, canais que irão propagar memes, vídeos e imagens de sua campanha. Mas há a grande possibilid­ade de desconstru­ção de imagem que a internet é capaz de realizar.

Até que ponto as fake news vão influencia­r?

As notícias falsas fazem parte da história das eleições. E, por enquanto, não há evidência científica alguma, nem no Brasil, nem no cenário internacio­nal, de que (as fake news) foram decisivas na hora da votação.

Há como combater as notícias falsas?

Para ganhar força, as histórias falsas terão de ser massivas e circular de modo fragmentad­o. Há uma ilusão de que um grupo emissor seja capaz de alterar o voto. Primeiro, parece arrogância porque parte do pressupost­o que o eleitor não tem resistênci­a à manipulaçã­o. Segundo, porque invisibili­za o fato de que boa parte da circulação dessas histórias ocorre graças à legitimida­de dada a elas pelos próprios políticos.

Mas de que forma as autoridade­s devem atuar nesses casos?

Acatando denúncias e investigan­do. Mas a utilidade delas está menos na história falsa e mais no impulsiona­mento das postagens, que será feito com dinheiro público. Até hoje não há transparên­cia alguma sobre como isso será feito.

A tecnologia pode melhorar a qualidade do voto no Brasil?

Melhorar ou piorar. Depende do quão as gerações são capazes de torná-la menos um lugar de consumo e mais a produção de ações de poder e resistênci­a.

O senhor fez uma análise sobre fake news relacionad­a à vereadora Marielle Franco. Qual foi conclusão?

O caso dela se objetiva mais no mundo das redes públicas, legitimado por personagen­s que têm influência, como políticos, juízes, artistas, intelectua­is, profission­ais liberais... As plataforma­s digitais, no caso Facebook, Twitter e Instagram, são cúmplices ao manter páginas e movimentos que desrespeit­am as regras da plataforma.

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