O Dia

CULTURA abandonada

Um dos símbolos dos protestos de junho de 2013 no estado, a Aldeia Maracanã encontra-se abandonada: usuários de drogas e moradores de rua usam o local

- CÁSSIO BRUNO cassio.gomes@odia.com.br

ACopa do Mundo no Brasil passou. Os Jogos Olímpicos no Rio também. E a Aldeia Maracanã, onde fica o antigo Museu do Índio, continua abandonada até hoje. Um dos símbolos dos protestos de junho de 2013, o local virou rota de fuga para bandidos e foi invadido por usuários de drogas e moradores de rua. A infraestut­ura do imóvel é precária.

A ideia de criar, no terreno de 14.300 metros quadrados, o Centro de Referência das Culturas Indígenas (com exposições, palestras e venda de artesanato­s) não saiu do papel. À época, os custos chegariam a R$ 23,5 milhões.

Com a chegada dos dois importante­s eventos esportivos, o governo do estado, proprietár­io da área após um acordo com a União, quis desocupar o prédio, construído nos tempos do Império. A remoção dos índios causou comoção e desencadeo­u as manifestaç­ões.

A intenção inicial era de que a Aldeia Maracanã fizesse parte das obras de reforma do estádio, com construção de estacionam­entos, lojas e praça de alimentaçã­o. Para isso, seria necessária a derrubada do antigo Museu do Índio e dos estádios de atletismo e de natação, além de uma escola. A assinatura do contrato de concessão do Maracanã ocorreu em dezembro de 2013. À época, o consórcio era formado pela empreiteir­a Odebrecht e pelas empresas de Eike Batista. No entanto, as obras foram alvos da Operação Lava Jato. Houve a descoberta de desvios de milhões de reais. O ex-governador Sérgio Cabral, Marcelo Odebrecht e Eike foram presos.

O projeto empresaria­l no complexo do Maracanã não foi à frente. A reação popular fez Cabral voltar atrás e prometer a implantaçã­o de um centro cultural do índio. Mas, depois dos escândalos de corrupção e da crise financeira do estado, o cenário de abandono permanece a mesmo.

“Não queremos um espaço para agradar turistas. Queremos a Universida­de Indígena, com formação de educadores da cultura dos índios e produção de políticas públicas para o nosso povo”, afirmou Dário Jurema, de 38 anos, da etnia Xukuru.

No local, vivem hoje apenas dez índios. A maioria saiu após a polêmica desocupaçã­o e foi morar em imóveis do Minha Casa, Minha Vida. O grupo que ocupa, em condições precárias, o terreno ainda briga na Justiça Federal pela reintegraç­ão de posse.

Em dezembro de 2013, o índio José Urutau chamou a atenção do país. Ele ficou em cima de uma árvore por pelo menos 26 horas. Foi um protesto contra a desocupaçã­o da Aldeia Maracanã.

Não queremos um espaço para agradar turistas. Queremos a Universida­de Indígena

DÁRIO JUREMA, índio da etnia Xukuru

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Na Aldeia Maracanã, o Museu do Índio está com muitas rachaduras
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Professora de Geografia Viviane de Oliveira levou 15 dos seus alunos para conhecer índios do local
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