Da Baixada para a Copa da Rússia
Nico Cavaco Show está fazendo shows de samba em praça pública em São Petersburgo e Moscou
Morador da Vila Jurandir, em São João de Meriti, o cantor e cavaquinista Nico Cavaco Show nunca tinha saído do país. E sua estreia em terras estrangeiras está sendo justamente na Rússia, em meio aos jogos da Copa. Está em Moscou, na Praça Vermelha, fazendo animados shows na rua. Antes, durante poucos dias, já tinha passado por São Petersburgo, onde juntou, ao lado de alguns amigos, cerca de 200 pessoas em praças públicas.
“Um aluno de cavaquinho, Carmello Conti, me trouxe e bancou a passagem. Eu tocava em bares da Lapa, mas o dinheiro foi ficando curto. Meu aluno me disse que meu talento não estava sendo reconhecido no Brasil, mas podia ser reconhecido aqui. A ideia é alegrar o pessoal na Rússia, mas vamos ver o que vai acontecer”, conta Nico, ou Osmany Ferreira da Silva, 49 anos, por telefone.
Tocando um repertório de sucessos do samba como os que tocava na Lapa, ele já conseguiu atrair turistas de todo o mundo, além de moradores de Moscou e São Petersburgo. Nico e seus companheiros têm tocado até de madrugada nas ruas. Num dos shows, a polícia chegou a aparecer, mas a apresentação continuou.
EM FAMÍLIA
Nico, que é “auxiliar de serviços gerais desempregado”, tem passado dificuldades financeiras. “Eu não estava trabalhando porque minha mãe ficou muito doente e eu precisava tomar conta dela. Ela não conseguia andar. Contratávamos pessoas, mas elas não tomavam conta direito da minha mãe. Há quatro anos, ela morreu”, diz o músico, pai de quatro filhos, cuja mulher, que trabalhava como caixa de mercado, também ficou sem emprego. “A situação ficou dura. Tinha dias em que só tínhamos um ovo pra dividir pra todos”.
A coisa começou a melhorar quando Nico foi tocar em bares do Rio. Pai de quatro filhos adolescentes, ele começou a tocar com amigos na Lapa, mas não podia deixar as crianças sozinhas em casa. Foi começando a levá-las. “Uma ficava vendo o show, os outros dormiam...”, recorda. Como na sequência alguns amigos que tocavam com ele foram arrumando outros serviços, a solução foi treinar os garotos para tocar. “A menor tinha um dom para percussão, a outra foi aprendendo observando, o garoto também toca percussão... Tocamos hoje eu, eles e o rapaz do violão”, alegra-se Nico. Desta vez, os filhos ficaram em casa e não puderam acompanhá-lo à Copa da Rússia.
Nico foi primeiro a Londres, por conexão, e depois foi a Helsinque, na Finlândia, onde encontrou com o aluno. Depois foi com ele para São Petersburgo. Até então, fora do Rio, só tinha feito shows em outros estados. “Tenho confiança de que vão prestar atenção na gente”, espera.