Muito equilíbrio para avançar
Tite trabalha o emocional da Seleção para que não sinta a pressão no decisivo confronto com a Sérvia. E valoriza a emoção de Neymar
Quando a Seleção projeta o futuro próximo, depara com seu maior trauma e com um medo do tamanho da Rússia. Se vencer a Sérvia, hoje, às 15h, no Estádio do Spartak, o Brasil pode cruzar com a Alemanha nas oitavas de final da Copa. Bastaria que os carrascos de 2014 se mantivessem em segundo lugar no Grupo F. Caso perca, corre o risco de sofrer novo abalo histórico: ser eliminado na primeira fase. Aliviar a pressão, que fez Neymar chorar e pesa nas pernas dos jogadores, é parte do trabalho de Tite, que faz as vezes de psicólogo, enquanto lida com a própria ansiedade.
“Não podemos pensar nisso (possível confronto com a Alemanha). Estrategicamente, estou procurando palavras para criar uma descontração, para a situação fluir de forma tranquila. Mas não estou tranquilo, a expectativa é muito alta. Tem a qualidade da Sérvia, os méritos deles”, disse o técnico.
A emoção de Neymar, Tite tenta anestesiar com empatia. Ao admitir ter chorado ao estrear no cargo, o treinador se colocou ao lado do camisa 10, embora mostre ser emocionalmente mais estável, apesar da queda no gol de Philippe Coutinho: “No primeiro jogo, contra o Equador, liguei para minha esposa e chorei de alegria, de satisfação, porque é nossa característica emocional. Chorei de prazer, de orgulho, de um momento de tanta pressão de fazer um grande jogo.”
O diagnóstico da autoanálise, que aponta para um quadro de inquietação, também contrasta com a tranquilidade nas palavras de Tite. A crença na solidez do trabalho realizado lhe tem efeito ansiolítico, ao mesmo tempo que o estimula: “Quando olho para trás e vejo toda a nossa trajetória, o mo- mento que estivemos juntos; quando lembro todo o passado, a construção dessa campanha; a necessidade da força de cada um, de equilíbrio emocional, para chegar até aqui; a comissão técnica e o quanto a gente procura se preparar bem, tudo isso me gera expectativa, mas me gera confiança”.
Se não viveu o choque da goleada por 7 a 1, Tite tem seus próprios traumas. Da eliminação do Corinthians para o Tolima, na fase preliminar da Libertadores de 2011, no entanto, o técnico tirou lições. Ao mesmo tempo que aprendeu como podem ser cruéis as surpresas do futebol, entendeu que a manutenção do equilíbrio e do padrão de jogo minimizam os riscos.