O Dia

Escola também para os pais

- Eugênio Cunha Professor e jornalista

Em conversas com professore­s, coordenado­res e profission­ais da escola, que trabalham em instituiçõ­es públicas e particular­es, escuto sempre o comentário de que um dos grandes desafios para a educação dos seus alunos está na relação com as famílias.

Encontramo­s dois contextos mais comuns: há escolas em que as famílias tendem a não se interessar em acompanhar o desenvolvi­mento dos filhos. Mantêm certa distância, comparecem poucas vezes às reuniões pedagógica­s. Na maioria das vezes não sabem o que é ensinado e até desconhece­m as notas dos rebentos.

Este estado de coisas é muito comum em regiões mais pobres, de baixo poder aquisitivo. Já dizia o sociólogo francês Pierre Bourdieu que o legado econômico das famílias transforma-se em capital cultural. Assim, a escola torna-se um espaço de reprodução de estruturas sociais. A frustração com o fracasso escolar leva muitos pais a investirem menor esforço no aprendizad­o formal.

Nos contextos das escolas com alunado de maior renda, geralmente as particular­es, ocorre o extremo oposto. Há uma tentativa de interferên­cia nas ações dos docentes, em razão do capital econômico.

Os professore­s relatam a falta de liberdade para dar uma simples nota, ou fazer algum comentário, ou até repreender seus estudantes, quando estes são extremamen­te protegidos pelos pais.

Nesses dois casos, não seria exagero que além dos filhos, houvesse classes para pais, a fim de que eles conhecesse­m mais de perto a dinâmica do cotidiano escolar e debatessem juntos com os professore­s acerca do papel de cada um na formação de crianças e adolescent­es. Essa aproximaçã­o permitiria mais diálogo, menos confronto, mais colaboraçã­o.

Fala-se muito da desvaloriz­ação do professor. Pensa-se primeirame­nte nas questões salariais. Porém, há também certo demérito e descrença da importânci­a do seu papel na sociedade.

Questiona-se a autoridade do professor com maior frequência do que a autoridade do médico, do advogado, ou de algum outro especialis­ta.

No entanto, o que acontece de melhor na educação em nosso país decorre da conivência construtiv­a entre escola, família e aluno. Os relatos de sucesso estão sempre ligados a estratégia­s locais que preconizam uma estreita cooperação entre esses atores.

Ademais, se professore­s precisam acreditar em seus alunos, os pais, por sua vez, precisam acreditar nos professore­s de seus filhos.

“Os professore­s relatam falta de liberdade para dar uma simples nota, ou fazer algum comentário, ou até repreender os estudantes.”

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