Brasileiros pagam caro para ter filhos nos EUA
Mulheres brasileiras recorrem ao programa ‘Ser Mamãe em Miami’, para dar à luz nos EUA e garantir a nacionalidade americana ao filho
Empresa carioca tem pacote de viagem especial para grávidas, que vão para Miami dar à luz. Custo é de 40 mil dólares (R$ 157 mil) e criança nasce com cidadania americana. Atriz Karina Bacchi contratou o serviço.
Para enfrentar o pesadelo brasileiro, o sonho americano. Uma quantidade considerável de mulheres grávidas das classes média à luz e alta está viajando para dar do nos Estados Unidos. Esta é a clientela que já programa Ser Mamãe em Miami, proporcionou a nacionalidade americana
A a filhos de muitos casais brasileiros. crise que já dura três anos e a descrença motivos. em dias melhores no Brasil são os garante Como a constituição americana todos a cidadania automática para sendo os nascidos naquele país, mesmo na turistas ou imigrantes ilegais, o parto terra do Tio Sam é um jeito de garantir filhos, um amanhã mais seguro para os justificam as famílias. “Decidimos ter o baby em Miami pensando somente no futuro e nas oportunidades será que nosso filho possa ter. Ele entrar cidadão americano, terá direito de momento e sair dos Estados Unidos a qualquer Pode sem necessidade de visto. estudar em escolas públicas americanas, e tem utilizar os programas do governo trainner direito a votar”, explica a personal Campos, fluminense Nathaly Nunes de com o 29 anos, que está em Miami
Moraes, marido, o advogado Daniel Motta
33 36, desde 20 de junho. Ela tem Davi semanas de gravidez e o parto do está previsto para agosto.
Ter um bebê nos EUA não é para qualquer de 40 um. Os custos giram em torno de mil dólares (R$154 mil pela cotação sexta-feira), entre despesas médico-hospitalares, “É transporte e hospedagem. um investimento que vale a pena”, garante filho o médico Thiago Marinho, 33, cujo hoje, Lucas, que completa dois meses jeito nasceu em Miami. “Com o Brasil do a que está, a gente cada vez mais perde esperança de que vá melhorar”, afirmou. Casado com a também médica Stephane em Marinho, 30, ele disse que não pensa no sair do país. “Temos uma vida estável filhos. Brasil. Fizemos isso pensando nos a Aqui, a violência cada vez cresce mais, retorno”, gente paga mais imposto e não tem é pai reclama o médico, que também de uma menina de 6 anos. e Para o coordenador de Graduação Pós-Graduação em Relações Internacionais é do Ibmec/RJ, José Luiz Niemeyer, compreensível o desejo de ter a cidadania estudo americana, pelas oportunidades de e emprego. Apesar disso, ele lamenta que isso aconteça. “É algo grave, porque é quase uma negação da nacionalidade”, triste, avalia. “Acho que é uma estratégia para fazer seu filho nascer em outro lugar ganhar alguma perspectiva”, acrescenta. Radicado nos EUA há 34 anos, o pediatra brasileiro Wladimir Lorentz criou, em 2015, um programa exclusivo para parturientes brasileiras darem à luz em Miami, na Flórida. Somente neste mês de julho, o Ser Mamãe em Miami (SMM) vai levar 123 gestantes para o Hospital Mercy, onde existe uma ala dedicada a pacientes internacionais com suítes privadas e espaçosas, e onde nascem mais de 1.400 bebês por ano. O pediatra já realizou 800 partos, em Miami, de mulheres de várias nacionalidades. “A cidadania americana é uma decorrência natural da criança nascer nos Estados Unidos”, explica Lorentz, para quem o tratamento é o principal atrativo. “Uma das vantagens é ter acesso ao atendimento médico, tanto pediátrico como obstétrico, que é referência em qualidade no mundo. Nos EUA, temos baixíssimos índices de parto cesárea, diferente do que ocorre no Brasil”. Pelo programa, o custo do parto em Miami fica entre 11 mil e 15 mil dólares. Segundo a advogada Renata Castro Alves, que vive em Miami há 17 anos, não há impedimento legal em viajar para os EUA para ter filho. “A imigração pode barrar, sim, mas não costuma acontecer. Salvo se eles acharem que a pessoa virá para utilizar fundos públicos para custear o parto”, explicou. O que não é o caso das mamães brasileiras. Algumas famílias que buscam o serviço são celebridades, como a atriz Karina Bachi, que teve o Enrico, em 2017, ou Roberto Assis, irmão e empresário de Ronaldinho Gaúcho, cuja filha Charlotte nasceu em 20 de junho.
Sobre os riscos de grávidas enfrentarem horas no avião, o vice-presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Rio, Renato Sá, não vê problemas. “Desde que a gestante faça as consultas, exames e o acompanhamento pré-natal adequadamente. Outra questão é assegurar que a assistência ao parto também será adequada nos EUA. Bons e maus profissionais existem em qualquer lugar”.
Acho que é uma estratégia triste, fazer seu filho nascer em outro lugar para ganhar alguma perspectiva
JOSÉ LUIZ NIEMEYER, coordenador de Graduação e Pós-Graduação do Ibmec