INTERVENÇÃO SEM DIÁLOGO
N Tudo começou em 28 de dezembro de 2006. Naquele dia, traficantes mataram 19 pessoas na cidade. Chocado e em crise pela barbárie, o teólogo, jornalista e escritor Antônio Carlos Costa, de 56 anos, decidiu criar a ONG Rio de Paz. A ideia era ousada: provocar um movimento para tentar reduzir os homicídios no estado.
A primeira ação foi enterrar centenas de cruzes nas areias de Copacabana, lembrando as mortes violentas. Em 2011, integrantes da ONG fincaram vassouras verdes e amarelas na entrada do Planalto para “varrer” a corrupção. Ganhou projeção internacional. Hoje, é filiada ao Departamento de Informação Pública da ONU.
N O DIA: Quais foram os efeitos práticos após a intervenção federal?
N Somos favoráveis à intervenção porque nos pareceu a saída mais imediata para se enfrentar um problema que persiste em ameaçar a vida, a liberdade e o direito de ir e vir. Entretanto, a intervenção foi um ato político de cima para baixo, sem qualquer interlocução com a sociedade. Esperávamos a apresentação de metas, cronograma, protocolo para operações nas favelas, prestação de contas.
N O governo Michel Temer errou ou não ao tomar essa medida?
L Errou ao não tomar a medida há mais tempo. Teve claramente intenções eleitorais. Quem o antecedeu também foi omisso. Quando decidiu, a situação já estava fora de controle.
N Como evitar que tantas pessoas sejam mortas por balas perdidas? L Cada operação deve ser antecedida por questões elementares: a ação policial tem amparo legal? Há probabilidade de sucesso? Está inserida dentro de um planejamento? É capaz de preservar a vida de inocentes? Expõe a desnecessário risco de morte do policial?
N A Justiça autorizou o retorno de 42 presos de penitenciárias federais. Qual é o impacto?
L Eles ficarão próximos das áreas de atuação. Poderá fortalecê-los. Mas as autoridades devem comprovar a periculosidade para que quem esteja se recuperando
N A morte da vereadora Marielle Franco ainda não teve solução.
L Esse crime foi e continua sendo uma afronta ao Estado Democrático de Direito.
N O que esperar do próximo governador eleito no Rio de Janeiro?
L Nossa expectativa é que o eleito esteja apto a ouvir diversos segmentos da sociedade, produzir uma reforma nas polícias e a convidar o cidadão a participar, de alguma forma, do combate ao crime. O Estado tem o dever de fortalecer os conselhos comunitários de segurança com o objetivo de que o cidadão participe.
N Os pré-candidatos ao governo estão preparados para enfrentar o problema da segurança? L Essa questão está longe de ser incluída na agenda dos governantes. O assunto ainda não sensibilizou de fato. Cresce o número de homicídios, mas grande parte das vítimas continua sendo negra e pobre. Combate aos homicídios não rende voto nas camadas médias da sociedade.