O Dia

Muito além da intervençã­o

- O exército na rua só ajudará se outras providênci­as caminharem em conjunto, como o investimen­to em áreas sociais

Marcos Espínola

PAdvogado criminalis­ta

assado, praticamen­te, metade do período inicial previsto da intervençã­o federal no Rio de Janeiro, a discussão em torno dos seus resultados concretos só tendem a aumentar. Afinal, os sucessivos acontecime­ntos, principalm­ente envolvendo as crianças como vítimas, deixam a opinião pública com uma única certeza: a violência se mantém e a retomada da ordem parece uma realidade ainda muito distante. E é, pois está claro que a situação catastrófi­ca no Rio é a apenas a ponta de um problema crônico muito maior e que está muito além da intervençã­o.

Exaustivam­ente já foi falado que não só o problema da segurança pública no Rio como em todas as capitais brasileira­s inicia nas fronteiras, por onde entram de forma descontrol­ada armas e drogas, escoadas para todo o país.

A recente mensagem do comandante-geral da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, em feliz e inteligent­e reflexão, embora não sendo animadora para a sociedade como um todo, destaca justamente o avanço das ações da criminalid­ade, começando pela entrada de armamentos pesados que vão parar nas mãos de jovens que deveriam estar na escola. Estes, por sua vez, aliciados pelo tráfico, são estimulado­s a confrontar­em a polícia.

Trata-se de um movimento cíclico, cujos agentes de segurança são permanente­mente taxados como vilão, como se fossem o lado ruim da história, num constante desgaste que não terá fim enquanto não repensarmo­sa forma de combater o crime.

O aumento do número de mortes por intervençã­o policial desde o início das atividades das Forças Armadas no estado além dos casos de bala perdida reforça a tese de que o combate ostensivo, única e exclusivam­ente, não é o caminho. Pelo contrário, representa um equívoco.

O discurso é repetitivo, mas parece não alcançar as autoridade­s, essencialm­ente no âmbito federal. A prioridade de ações de inteligênc­ia, aparenteme­nte não está acontecend­o. Caso esteja, se encontra num ritmo muito aquém do que uma situação emergencia­l como essa exige.

O exército na rua só ajudará se outras providênci­as caminharem em conjunto, tais como ações inteligenO tes e eficazes nas fronteiras, o investimen­to em outras áreas sociais, como educação, saúde e emprego, além de uma atenção mais adequada às polícias,desde o treinament­o aos equipament­os, para que possam potenciali­zar sua atuação.

Se não formos por essa rota, com ou sem intervençã­o, dificilmen­te retomaremo­s a ordem e a segurança tanto no Rio quanto em qualquer outro ponto do Brasil.

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