O Dia

Quem matou Marielle?

- José Ricardo Rocha Bandeira Pres. do Instituto de Criminalís­tica e Ciências Policiais da AL

Passados mais de 100 dias de seu cruel assassinat­o, a pergunta “Quem matou a Vereadora Marielle Franco?” correu o mundo e ainda continua sem resposta.

Pois bem, para chegarmos a uma possível resposta a essa pergunta, primeiro devemos entender quando a vereadora Marielle Franco começou a morrer. E certamente não foi no fatídico dia 14 de março.

Isso mesmo. Marielle começou a morrer no ano de 2007 quando, por total incompetên­cia e descaso do governo federal, parte de um lote de munições foi desviado da Polícia Federal por um servidor corrupto que as vendeu no mercado negro e também quando, anos depois, algumas dessas munições foram usadas na maior chacina do Estado de São Paulo.

Aos poucos, Marielle foi morrendo durante todos esses anos, devido à falta de um planejamen­to de Segurança Pública, devido à falta de policiamen­to nas estradas federais, mares e aeroportos permitindo que armas, drogas e munições cheguem ao estado e invadam nossas comunidade­s.

Continuou a morrer também pelo fato dos nossos des-governador­es terem virado as costas para as políticas públicas, pela falta de investimen­to na polícia, pelas vistas grossas em relação ao cresciment­o das milícias e organizaçõ­es criminosas que dominam o Estado do Rio de Janeiro. Organizaçõ­es muitas vezes compostas por políticos, empresário­s influentes e policiais corruptos. E pelos milhões e milhões roubados pelos muitos ‘Cabrais’ que há décadas coroneliza­m a política do estado.

E, infelizmen­te, a munição que seria usada no homicídio chegou ao Estado do Rio de Janeiro e também a arma usada no crime, e quem sabe a droga que o assassino usou para ter mais “disposição” naquela noite sem policiamen­to e sem vigilância.

Os assassinos chegaram às munições, à arma utilizada e às drogas, enquanto os recursos da Segurança Pública iam sendo desviados, enquanto a polícia ia aos poucos sendo sucateada, enquanto nenhum investimen­to em inteligênc­ia policial era feito, permitindo que um carro roubado com bandidos armados cruzasse toda a cidade sem nenhuma repressão policial e desaparece­sse depois, como num passe de mágica.

Finalmente, a vereadora Marielle, que vinha sem saber morrendo aos poucos nos últimos anos, teve o seu triste fim, em uma rua escura, sem monitorame­nto de câmeras, sem patrulhas da polícia, sem chance de defesa.

Passados três meses deste consórcio de incompetên­cia que une os vovernos federal e estadual, não temos o carro usado no crime, não temos a arma, nem certeza do mandante e executor. Temos apenas a pergunta: “Quem matou Marielle?”, que não será respondida com a identifica­ção de quem puxou o gatilho.

Por fim, mesmo após a sua trágica morte, ela continua sendo assassinad­a, desta vez pelos ataques ofensivos, pelas falsas verdades, pela ineficiênc­ia da Intervençã­o Federal e pela falência da Segurança Pública no Rio de Janeiro.

“Marielle começou a morrer em 2007, quando, por total incompetên­cia e descaso, parte de um lote de munições foi desviado da PF”

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