O Dia

O Principado Messiânico de Curitiba

- João Batista Damasceno

“A perseguiçã­o aos adversário­s de classe, a humilhação pública (...) não são valores republican­os”

Doutor em Ciência Política e juiz de Direito

Asede das estripulia­s que se fazem com as liberdades no Brasil tem endereço. É o Principado de Curitiba. Não é República de Curitiba. República é ‘res publica’, ou coisa pública e o que se observa é atuação pautada por pessoalida­des e interesses menores.

República é o zelo pelo que é comum, inclusive o zelo pela justiça eticamente a ser feita tal como desejamos que funcione se estivermos sendo julgados.

A perseguiçã­o aos adversário­s de classe, a humilhação pública, a exposição midiática e indevida de conversas privadas, as conduções coercitiva­s de uns, sem prévia intimação desatendid­a, e a oitiva de outros por correspond­ência não são valores republican­os. Expressam o que há de mais tacanho no Brasil arcaico dos coronéis de outrora, senhores em suas terras e sobre suas gentes.

Oliveira Vianna, um dos maiores intérprete­s do Brasil, pensador e produtor de uma das densas obras sobre as instituiçõ­es brasileira­s, foi um dos que melhor analisou o papel dos juízes e das instituiçõ­es em favor de seus clãs e em perseguiçã­o aos adversário­s.

O que o principal juiz do Principado de Curitiba e os que gravitam em sua esfera de atuação fazem não está relacionad­o com independên­cia judicial, que todos devemos defender se pretenderm­os julgamento­s justos. Suas práticas são de estarrecer. Mas, nenhum magistrado tem a possibilid­ade de similar conduta, se não tiver acobertame­nto para suas Nem mesmo atuações no estrito âmbito da legalidade são eficazes quando não há tribunais que as ratifiquem. E, por vezes, juízes que desempenha­m regularmen­te suas funções são submetidos a procedimen­tos onde seus ‘algozes’ fundam-se nos “papos de corredores” e antipatias cultivadas, sem analisarem as provas favoráveis constantes dos processos.

O mal que tais condutas anômalas ao sistema de garantias legais provoca é certo. A reação às instituiçõ­es não tarda. Os militares, depois de várias intervençõ­es moderadora­s ao longo da República brasileira, resolveram atuar diretament­e na política. O resultado foi o desastroso comprometi­mento das Forças Armadas, que somente para a repressão mais rasteira são lembradas na atualidade, quando maior deveria ser o seu papel estratégic­o num país continenta­l.

As instituiçõ­es brasileira­s pagarão alto preço pelas aventuras do Principado Messiânico de Curitiba e seus seguidores.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil