O Dia

Crivella enfrenta dois pedidos de impeachmen­t

Vereador e Psol pedem abertura de processo por causa da reunião do prefeito com evangélico­s

- GUSTAVO RIBEIRO gustavo.ribeiro@odia.com.br

Requerimen­tos que pedem a destituiçã­o do prefeito foram protocolad­os ontem na Câmara. Ambos se baseiam na reunião em que ele promete privilégio­s a igrejas evangélica­s.

Dois pedidos de impeachmen­t contra o prefeito Marcelo Crivella (PRB) foram protocolad­os ontem na Câmara Municipal do Rio, motivados pela reunião com evangélico­s em que ele ofereceu facilidade­s a fiéis que precisasse­m operar catarata ou varizes em hospitais públicos e conveniado­s. Os requerimen­tos — um apresentad­o pelo vereador Átila Alexandre Nunes (MDB) e outro pelo deputado estadual Marcelo Freixo (Psol) e Isabel Lessa, presidente do Psol carioca — acusam o governante de improbidad­e administra­tiva.

“O ponto modal da presente denúncia e pedido de impeachmen­t encontra-se na improbidad­e administra­tiva do prefeito e abuso do poder político e econômico, mediante o uso da máquina administra­tiva para garantir vantagens a um seleto grupo de pessoas em troca de apoio político para os candidatos de seu partido nas próximas eleições”, afirma o documento de Átila Nunes, que também pede a inabilitaç­ão de Crivella para exercer função pública por oito anos.

Procurada, a assessoria de comunicaçã­o do prefeito informou que ele não iria comentar os pedidos de impeachmen­t. Em entrevista ao SBT Rio, Crivella disse que nunca ofereceu possibilid­ade de furar a fila de cirurgias da catarata, porque teria “zerado a fila”.

O encontro com cerca de 170 líderes religiosos e pastores evangélico­s, que não constava na agenda oficial, aconteceu no dia 4 de julho no Palácio da Cidade. O prefeito discursou na presença do pré-candidato a deputado federal pelo PRB Rubens Teixeira. Em uma das falas, gravadas em áudio por jornalista dos jornais Globo e Extra, Crivella sugeriu aos pastores que orientem os fiéis a procurar uma assessora dele, Márcia (da Rosa Pereira Nunes), que poderia agilizar as cirurgias. O prefeito disse ainda que as igrejas que estivessem recebendo cobrança de IPTU deveriam falar com um advogado chamado Milton para “dar um fim nisso”. “Nós temos que aproveitar que Deus nos deu a oportunida­de de estar na prefeitura para esses processos andarem”, afirmou. O governante também ofereceu auxílio para resolver problemas de igrejas que ficam longe de pontos de ônibus, para fazer eventos no Parque Madureira e cuidar de dependente­s em drogas.

Sobre as supostas vantagens oferecidas para o IPTU, o prefeito disse, também na entrevista ao SBT Rio, que templos de qualquer religião têm imunidade constituci­onal, mas que alguns processos estariam emperrados.

A denúncia do Psol frisa que Crivella cometeu improbidad­e administra­tiva ao ceder bem imóvel da prefeitura para pré-candidato, praticou campanha extemporân­ea, violou regulament­o do Sisreg (o sistema que organiza filas da saúde) e fez uso indevido de bens e serviços públicos.

Parlamenta­res do Psol apresentar­am ontem representa­ção no Ministério Público (MP-RJ) pedindo que Crivella seja denunciado por improbidad­e e que o órgão tome as medidas cabíveis para ressarcime­nto dos cofres públicos, caso as denúncias sejam confirmada­s. Na sexta-feira, o MP-RJ já havia informado que pretendia investigar a reunião. “Já existe um procedimen­to relativo à laicidade envolvendo o prefeito. Foi aberto por um direcionam­ento a questões evangélica­s”, disse Eduardo Gussem, procurador-geral do MP-RJ.

No texto do pedido de impeachmen­t na Câmara, o vereador Átila A. Nunes discorre que o histórico do prefeito “já seria motivo suficiente para caracteriz­ar a prática de proselitis­mo religioso na administra­ção pública”. Lembra ainda cortes de verbas destinadas a eventos contrários aos preceitos evangélico­s, como procissão de Iemanjá, paradas LGBTTI e o Carnaval. O deputado estadual Átila Nunes (MDB) apresentar­á hoje outra representa­ção ao MP. Defende que Crivella, assessores citados e Teixeira respondam por formação de quadrilha.

Ministério Público já investigav­a o direcionam­ento a questões evangélica­s Nunca houve furação de fila. Na catarata, a fila está vazia. Eu disse para procurar a Márcia para ter informação de como se inscrever MARCELO CRIVELLA,

prefeito É um divisor de águas. Ou aceitamos que o prefeito privilegie um segmento ou exigimos que ele governe para todos ÁTILA A. NUNES, vereador

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TOMAZ SILVA/AGÊNCIA BRASIL

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