Solidariedade artística centenária
Retiro dos Artistas completa 100 anos de atividades e luta para captar recursos e manter serviços
Prestes a completar o primeiro centenário, o Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá, se prepara para a festa. Na instituição, fundada para acolher artistas que chegam à terceira idade em situação de vulnerabilidade socioeconômica, a expectativa é de que o marco histórico sirva também para aumentar a captação de recursos e ajudar a superar o momento de crise financeira.
Afinal, a instituição acolhe 50 moradores, entre atores, artistas plásticos e de circo, músicos e técnicos de TV, cinema e teatro. A maioria mora em casas individuais, com serviço de lavanderia e refeitório. Os internos que não têm condições de viver sozinhos ficam em uma unidade de apoio (hoje com 11 moradores) com enfermeiros e cuidadores. “Temos parceiros, pessoas e empresas, com quem podemos contar. Mas é difícil se manter com caridade”, argumenta a administradora do Retiro, Cida Cabral.
Nas casas, decoradas pelos próprios ocupantes, é comum ver prêmios, fotografias, discos e outros espólios da época em que trabalhavam nas artes. Morador do Retiro há dois anos, o artista plástico Aloysio Zaluar, 81, resume em poucas palavras o dia a dia no local. “Acordo, tomo banho, café e falo mal dos outros”, brinca.
No Retiro, todos têm liberdade de escolher como passar o dia — há cinema, espetáculos de teatro, piscina e sala de recreação. E eles também visitam uns aos outros. Amigas e vizinhas, a camareira Maria Lúcia Perrota, 79, e a artista circense Holdira Martins (irmã do compositor Herivelto Prêmios e condecorações decoram a casa de J. Maria Aloysio Zaluar está há dois anos na instituição
Martins, conhecida como Piuxa), 93, se fazem companhia, já que Holdira não tem mais família viva. “Eu cuido dela e ela cuida de mim”, confessa Maria Lúcia.
As tecnologias atuais também aproximam os idosos dos familiares. O contrarregra J. Maia, 76, não dorme sem antes falar com os dois
filhos pelo computador. Na sala de casa, com paredes lotadas de prêmios e condecorações, além de retratos de amigos, ele conta que tem 62 anos de serviços prestados às artes cênicas. “Alguns colegas ficam esperando a morte chegar, mas, aqui, não. Quando ela bate na porta eu mando logo se mandar”, confessa.