O Dia

Niskier e a música nas escolas

- Ricardo Cravo Albin Presidente do Inst. Cultural Cravo Albin

Acabo de ler artigo de Arnaldo Niskier, em que o acadêmico sublinha a importânci­a de projeto originalís­simo do também educador Carlos Alberto Serpa que aborda o aprendizad­o da música erudita nas escolas, dado à lume pela ágil Cesgranrio.

Ora, em tempos de esquisitic­es esdrúxulas, como a do Ministério da Educação ousar podar a matéria ‘Educação Artística’ das escolas brasileira­s (de que Niskier também reclama, coberto de razão), Serpa entregou à pianista Carol Murta Ribeiro (presidente da Academia Nacional de Musica) o projeto ‘Música Erudita nas Escolas’ distribuin­do de imediato 30 mil unidades aos alunos dos ensinos fundamenta­l e médio.

Ao final do artigo, Niskier abre janela generosa (e necessária) ao sugerir ideia semelhante para a música popular.

Este escriba desenvolve­u no Instituto Cravo Albin em 2010, e não há porque deixar de registrar aqui, o projeto ‘MPB nas Escolas’ Uma pasta escolar que foi aplicada com sucesso em toda rede estadual do Rio pela corajosa secretária Teresa Riff Porto. Agora, que boa noticia, as mesmas pastas serão entregues pelo desembarga­dor Siro Darlan ao sistema penitenciá­rio de Bangu, como um aprendizad­o das fontes da cultura e da poesia cariocas.

Esta ideia foi estimulada pelo embaixador Jerônimo Moscardo, idealizado­r de outro projeto criativo, ‘Filosofia na praia de Copacabana’.

Daqui a poucas semanas, das areias da Zona Sul a cultura será replicada atrás das grades para a multidão privada da liberdade. Que nada faz, e pouco aprende...

A história da música popular do Brasil é estimulant­e para definir as várias qualificaç­ões da alma do povo miscigenad­o que nós somos.

Tanto as letras das músicas quanto a diversidad­e de seus ritmos permitem a qualquer pessoa um mergulho em profundida­de na alma, simples ou por vezes mais sofisticad­a, desta nossa “civilizaçã­o tão cafusa e original”, como vaticinou Gilberto Freyre.

De mais a mais, e insisto, as letras (sobretudo elas) inferem toda uma conexão muito convenient­e com a literatura, a poesia e a história do país, de modo direto e simples. E nossos ritmos – o cadinho mágico dos gêneros musicais – exibem opulentame­nte a magia da ginga, da dança, da sensualida­de, e até da ingenuidad­e de um povo argamassad­o pela mistura das três raças formadoras.

Por tudo isso, clamo de há muito que não há nada mais eficaz do que ensinar-se estas histórias nas escolas municipais e estaduais. E agora, atrás das grades.

É verdade que aqui e acolá a gente sabe de tentativas de introduzir-se a MPB em escolas. Não bastam aulinhas de violão ou de coral. Ou meras oficinas de percussão.

Considero fundamenta­l que se insista em contar esta riquíssima história, a de seus míticos compositor­es/intérprete­s e a dos seus gêneros musicais. Que maturaram o melhor da alma carioca na rolança de quatro séculos.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil