AMANHÃ É DIA DOS AVÓS MAIORES DE 60 TÊM ROTINA CADA VEZ MAIS ATIVA
Grupo de trabalhadores formais com mais de 65 anos aumentou 58,8% em 5 anos. Na faixa de 50 a 64, subiu 30%
Dia a dia dos vovôs e vovós é muito diferente do que há alguns anos. Cada vez mais, eles saem de casa para se divertir. Além disso, quebram resistências no mercado de trabalho muitos, por necessidade.
Trabalho com pessoas da minha faixa. Não dispenso momentos com as netas. Gelsa Amorelli, tabeliã, 68 anos
Eles são idosos, continuam trabalhando pra valer e aproveitam as horas livres paparicando — e muito! — os netos, como amanhã, Dia dos Avós. E ainda arrumam tempo para se exercitar, passear e namorar. Mais experientes que os jovens e com requisitos prestigiados pelas empresas, os idosos da “nova geração” estão mais ativos no mercado de trabalho, quebrando resistências históricas. Uns não se veem parados. Outros, em tempos de crise, só não param porque dependem da fonte de renda.
Dados da Relação Anual de Informações Sociais, do Ministério do Trabalho, comprovam a tendência. O grupo de trabalhadores formais com mais de 65 anos passou de 361,4 mil, em 2010, para 574,1 mil, em 2015, um aumento de 58,8%. Na faixa etária de 50 a 64, a participação subiu 30% em cinco anos, de 5,89 milhões para 7,66 milhões de pessoas com carteira assinada.
“A taxa de nascimento está decrescendo e a população vai ficando mais velha. Com a inflação do jeito que se encontra e aposentadoria complexa, os profissionais estão tendo que trabalhar até mais tarde para completar a renda familiar. Outros continuam trabalhando porque se sentem ativos e querem manter essa jovialidade no trabalho”, aponta a especialista Astrid Vieira, consultora e diretora da Leaders, uma consultoria de Recursos Humanos.
Avó de cinco netos de 4 a 14 anos, a tabeliã Gelsa de Sousa Amorelli, 68, faz parte da turma que trabalha por amor (desde os 16 anos). Ela mora em Copacabana e vai até quatro vezes por semana ao cartório em Magé. Chega a enfrentar de uma a três horas no trânsito, de carro. “Trabalho onde eu quero morrer. Amo o que faço. Quando se aposenta, a gente morre. Tem que ter ideal”.
Gelsa gosta de trabalhar com pessoas da mesma faixa etária em seu cartório. “Uma tem 58, outras, 60 e 65. São pessoas que já cuidaram de filhos, então se dedicam com mais afinco e não faltam. O trabalho é uma realização para elas”, destaca. Não é só de trabalho que a vida fica mais vibrante. Recentemente, Gelsa passou uma semana acampada e pescando com dois netinhos de Goiânia, de 6 e 8 anos, no Rio Araguaia. “E fim de semana, estou sempre com os netos aqui ou em Petrópolis”, diz a vovó coruja.
Avô de um menino de 8 e um adolescente de 19 anos, o serralheiro Fernando Silva, 65, que mora em Nilópolis e trabalha em Maria da Graça, se aposentou neste mês e só não para por necessidade. São duas horas para ir e duas para voltar, de segunda a sexta, de ônibus e trem, e trabalha dez horas. Com um problema no nervo ciático, sofre de dores nas pernas, mas raramente lhe cedem lugar no transporte. “A dificuldade para sustentar a casa e ajudar filhas e netos é grande. Só com a aposentadoria é difícil, senão pararia.”
A advogada Estela Britto, 68, que trabalha em seu apartamento na Tijuca e tem uma neta de 21, garante que a idade não lhe traz dificuldades maiores que os jovens, a não ser para acompanhar a tecnologia. “Gosto de estar com os jovens para me atualizar e de fazer cursos. Quando tenho dificuldade no computador, peço ajuda a um colega de 30 anos”, conta ela, que faz exercícios todo dia, namora e sempre viaja.
Avô de dois netos, Fernando se aposentou, mas tem que continuar na ativa para manter a família