O Dia

AMANHÃ É DIA DOS AVÓS MAIORES DE 60 TÊM ROTINA CADA VEZ MAIS ATIVA

Grupo de trabalhado­res formais com mais de 65 anos aumentou 58,8% em 5 anos. Na faixa de 50 a 64, subiu 30%

- GUSTAVO RIBEIRO gustavo.ribeiro@odia.com.br

Dia a dia dos vovôs e vovós é muito diferente do que há alguns anos. Cada vez mais, eles saem de casa para se divertir. Além disso, quebram resistênci­as no mercado de trabalho muitos, por necessidad­e.

Trabalho com pessoas da minha faixa. Não dispenso momentos com as netas. Gelsa Amorelli, tabeliã, 68 anos

Eles são idosos, continuam trabalhand­o pra valer e aproveitam as horas livres paparicand­o — e muito! — os netos, como amanhã, Dia dos Avós. E ainda arrumam tempo para se exercitar, passear e namorar. Mais experiente­s que os jovens e com requisitos prestigiad­os pelas empresas, os idosos da “nova geração” estão mais ativos no mercado de trabalho, quebrando resistênci­as históricas. Uns não se veem parados. Outros, em tempos de crise, só não param porque dependem da fonte de renda.

Dados da Relação Anual de Informaçõe­s Sociais, do Ministério do Trabalho, comprovam a tendência. O grupo de trabalhado­res formais com mais de 65 anos passou de 361,4 mil, em 2010, para 574,1 mil, em 2015, um aumento de 58,8%. Na faixa etária de 50 a 64, a participaç­ão subiu 30% em cinco anos, de 5,89 milhões para 7,66 milhões de pessoas com carteira assinada.

“A taxa de nascimento está decrescend­o e a população vai ficando mais velha. Com a inflação do jeito que se encontra e aposentado­ria complexa, os profission­ais estão tendo que trabalhar até mais tarde para completar a renda familiar. Outros continuam trabalhand­o porque se sentem ativos e querem manter essa jovialidad­e no trabalho”, aponta a especialis­ta Astrid Vieira, consultora e diretora da Leaders, uma consultori­a de Recursos Humanos.

Avó de cinco netos de 4 a 14 anos, a tabeliã Gelsa de Sousa Amorelli, 68, faz parte da turma que trabalha por amor (desde os 16 anos). Ela mora em Copacabana e vai até quatro vezes por semana ao cartório em Magé. Chega a enfrentar de uma a três horas no trânsito, de carro. “Trabalho onde eu quero morrer. Amo o que faço. Quando se aposenta, a gente morre. Tem que ter ideal”.

Gelsa gosta de trabalhar com pessoas da mesma faixa etária em seu cartório. “Uma tem 58, outras, 60 e 65. São pessoas que já cuidaram de filhos, então se dedicam com mais afinco e não faltam. O trabalho é uma realização para elas”, destaca. Não é só de trabalho que a vida fica mais vibrante. Recentemen­te, Gelsa passou uma semana acampada e pescando com dois netinhos de Goiânia, de 6 e 8 anos, no Rio Araguaia. “E fim de semana, estou sempre com os netos aqui ou em Petrópolis”, diz a vovó coruja.

Avô de um menino de 8 e um adolescent­e de 19 anos, o serralheir­o Fernando Silva, 65, que mora em Nilópolis e trabalha em Maria da Graça, se aposentou neste mês e só não para por necessidad­e. São duas horas para ir e duas para voltar, de segunda a sexta, de ônibus e trem, e trabalha dez horas. Com um problema no nervo ciático, sofre de dores nas pernas, mas raramente lhe cedem lugar no transporte. “A dificuldad­e para sustentar a casa e ajudar filhas e netos é grande. Só com a aposentado­ria é difícil, senão pararia.”

A advogada Estela Britto, 68, que trabalha em seu apartament­o na Tijuca e tem uma neta de 21, garante que a idade não lhe traz dificuldad­es maiores que os jovens, a não ser para acompanhar a tecnologia. “Gosto de estar com os jovens para me atualizar e de fazer cursos. Quando tenho dificuldad­e no computador, peço ajuda a um colega de 30 anos”, conta ela, que faz exercícios todo dia, namora e sempre viaja.

Avô de dois netos, Fernando se aposentou, mas tem que continuar na ativa para manter a família

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ALEXANDRE BRUM / AGÊNCIA O DIA
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 ?? ALEXANDRE BRUM / AGENCIA O DIA ?? Estela, 68 anos, trabalha em seu escritório de advocacia, decorado com várias fotos da neta, que agora está com 21
ALEXANDRE BRUM / AGENCIA O DIA Estela, 68 anos, trabalha em seu escritório de advocacia, decorado com várias fotos da neta, que agora está com 21
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ALEXANDRE BRUM / AGENCIA O DIA Gelsa, com as netas Amanda e Alexia, enfrenta horas no trânsito para trabalhar em Magé: ‘Faço o que gosto’
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