O Dia

Hierarquia das bicadas

- Roberto Muylaert

Em um galinheiro, a galinha A bica todas e não é bicada por nenhuma. A galinha B bica todas, menos A. A galinha C bica todas, menos A e B, e assim sucessivam­ente, até a galinha N, que é bicada por todas, e não bica nenhuma.

A situação de Donald Trump está quase no limite da galinha que bica todas, sendo bicada só por uma, a galinha russa.

O cada vez mais volumoso e adiposo presidente americano saiu mundo afora dando bicada para todo lado. Ofendeu os aliados nas reuniões comerciais, nos tratados de defesa, sempre que teve oportunida­de, enquanto, sem a menor noção de protocolo e etiqueta, fez a rainha Elizabeth II, de 92 anos, sair atrás dele, tentando uma passagem obstruída pelo corpanzil do americano, cujo lema é “ninguém melhor do que eu”.

Com Kim Jong-un, ele também cantou de galo, como ocidental ca- pitalista, frente a um tirano de país rudimentar, que não merece respeito, a não ser por sua capacidade de envenenar inimigos e fabricar foguetes de longo alcance com ogivas nucleares. O presidente americano tentou dissuadi-lo de continuar nesse caminho, numa reunião de poucas horas, sem tempo de bicar o norte-coreano.

Na sua rudeza e desrespeit­o, ele tem ido além da falta de protocolo, chegando à pura e simples falta de educação, que não aprendeu em casa.

Apresentou-se com uma grossura maior do que os antigos dirigentes comunistas, que sempre tomaram cuidado com suas posturas frente aos ocidentais, exceção feita a Nikita Khrushchev, que deu sapatadas na mesa, em reunião da ONU, em 1960.

Trump bicou muita gente boa nesses últimos tempos: a primeira-ministra Thereza May, a alemã Angela Merkel, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, que tratou com o maior preconceit­o, classifica­ndo-o como “fraco”.

Bicou todo mundo, até se encontrar com a galinha chamada Vladimir Putin, quando abaixou a crista e passou a concordar com tudo que ela afirmava, até mesmo antes de ser solicitado a tanto.

Isso acontece com pessoas agressivas, mas que têm tal complexo de inferiorid­ade que até esquecem a própria personalid­ade, frente ao deslumbram­ento com a personagem dominante, no caso, a galinha A, presidente/primeiro-ministro Putin.

Trump estava tomado de tal respeito reverencia­l pelo colega russo que precisou ficar explicando ao mundo, por dias, sua atitude subservien­te frente ao rival. Talvez fosse o caso de ele contar logo a Putin a teoria da hierarquia do galinheiro. Reconhecid­o como galinha A, o russo entenderá tudo.

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