#CLIENTESESPECIAIS E O CLUBE DA USURA
“Aviso aos bancos! Parem de chamar de ‘especial’ o crédito mais caro do mercado. Vocês não vão fazer o seu cliente se sentir ‘especial’ com isso” — Santander Brasil.
Antes tarde do que nunca, mas é bem assim que o Santander está comprando uma briga de cachorros grandes, touros loucos e leões insaciáveis. A versão brasileira da instituição, de origem espanhola, convida a concorrência a não mais chamar o cheque especial de “especial”, por causa das mudanças em vigor desde 1º de julho, por autorregulamentação do sistema financeiro.
A peça publicitária inaugurou na mídia o novíssimo marketing do sincericídio monetário, um belíssimo serviço de boa fé retardatária. É a confissão pública de que, em troca de um status inexistente, o cliente topa se vender barato e pagar juros caros. Nenhum problema se, muitas vezes, o cliente não fosse induzido a acreditar que ele é “especial”, mesmo sendo parte de uma ralé de endividados.
Ainda que tardio, o mérito do Santander está em vir a público rasgar o “código de ética” do fechado clube da usura e promover lá dentro uma dissidência bem-vinda à reflexão aqui fora. Não interessa a ninguém que a riqueza circulante — na forma de créditos, empréstimos ou financiamentos — se perca nos labirintos da ingenuidade assalariada ou caia no abismo das despesas domésticas. Não adianta alguns bancos investirem em campanha de conscientização, enquanto outros facilitam acesso ao crédito até para quem não pode se endividar na padaria ou no açougue. Não adianta uns motivarem poupadores, enquanto outros empurram títulos de capitalização como se fossem figurinhas da Copa ou raspadinhas de Natal.
O sistema bancário carece de uma ação urgente e unificada, coletiva e conjunta; de uma força-tarefa com um só objetivo, que vá na mesma direção: investir mais em alfabetização econômica e educação financeira; e consolidar uma cultura de crédito sustentável de médio e longo prazos. Só assim seremos todos #ClientesEspeciais.