MARIELLE COMO INSPIRAÇÃO
Mulheres negras se lançam candidatas por diferentes legendas
Levantamento do DIA mostrou que o partido de Marielle está lançando 11 pré-candidatas negras a deputada estadual, 31 a deputada federal e nenhuma a senadora. O Estado do Rio é o que mais lançou pré-candidaturas de mulheres negras na sigla. O número deve mudar após as convenções.
“O aumento nas candidatura de mulheres negras é um chamado que a própria Mari já estava fazendo. Ela sabia que não dava conta sozinha. Minha candidatura foi pensada para representar a juventude negra”, disse Dani Monteiro, pré-candidata a deputada estadual pelo partido.
O MDB tem, por ora, nove mulheres negras pré-candidatas a deputada federal. Este número pode mudar após a convenção do partido. A Dra. Zuila, do Ceará, é uma delas. Enfermeira, ela defende o combate ao racismo e diz que quer atender a todas as camadas sociais. A psicóloga Maria Aparecida Pinto, psicóloga e especialista em história da África, foi indicada na sexta-feira para disputar
Luma cadeira no Senado pelo partido.
Para o pesquisador da USP Osmar Teixeira Gaspar, que estuda a participação da população negra na política, os próprios partidos se constituem como barreiras artificiais que impedem que a população negra ocupe espaços de decisões, em especial no Congresso. “As elites brasileiras brancas dominantes ditam as cartas também nos partidos. No longo período de escravização de pessoas, foram construídos obstáculos artificiais aos negros e negras no Legislativo. A contradição da democracia brasileira é essa se presume um governo de maioria, mas a população negra é barrada nos espaços de poder”, diz ele.
Em sua tese de doutorado, Gaspar defende a reserva de pelo menos 30 % das vagas no parlamento em todas as instâncias para homens e mulheres negras. “Não é possível que a maioria permaneça minoria. O modelo político concentra o poder na minoria de homens brancos e a maioria da população não é representada. Não decide e não formula as políticas públicas”, ressalta.
Para Gaspar, a sub-representação dos negros atrasa a solução dos problemas do país como um todo. “Há grande prejuízo com o desperdício de talentos dos descendentes dos seres humanos escravizados. Não deveríamos prescindir da presença de negras e negros no espaço público. É questão de justiça”.