Filho ideal não existe
Adotar uma criança é opcional para o indivíduo ou casal que deseja ser pai ou mãe. Mas, independentemente do que venha motivar essa escolha, a chegada da criança adotada será a realização do desejo de ter um filho. Contudo a etapa antecedida pela tomada de decisão por adotar, quase sempre, carrega inúmeros mitos e preconceitos advindos do desconhecimento sobre o processo que envolve uma adoção.
O Cadastro Nacional de Adoção (CNA) reúne mais de 40 mil interessados, dos quais 78% só aceitam crianças até 5 anos, 17% querem crianças brancas, 63% não adotam as que têm doenças ou deficiências e 64% não estão abertos a receber crianças com irmãos. Por outro lado, o CNA registra, aproximadamente, 9 mil crianças à espera de um pai ou de uma mãe que as recebam como filho ou filha para formar uma família. Destas crian- ças, mais de 73% são maiores de 5 anos, 66% são negras ou pardas, 59% possuem irmãos e 26% têm alguma doença ou deficiência. Vendo estes números clarifica-nos o fato do por que existem tantas crianças nos abrigos e também por que se espera tanto para concretizar um processo de adoção.
Geralmente, as crianças que aguardam
“O Cadastro Nacional de Adoção reúne mais de 40 mil interessados, dos quais 78% só aceitam crianças até 5 anos”
por adoção e sonham com a proteção de uma família vêm de um processo de exclusão que envolve perdas, separação, violência, drogas, subnutrição e outras circunstâncias que as deixaram vulneráveis. Adotar uma criança não é um ato de encomendar um filho perfeito, aquele que só existe em sonhos. Antes de tudo é assumir o propósito de conhecer, respeitar e amar uma pessoa com sua história de vida, sua identidade e características individuais. Na convivência é que pais e filhos construirão uma relação de proteção, amizade, respeito e amor. A sabedoria está em aceitar percorrer o caminho com coragem, em dispor-se a aprender com os trechos que dão prazer e com os que nos impõem desafios.
Filho ideal não existe, seja biológico ou adotivo. Portanto, a paternidade ou maternidade passará pelo desafio da convivência diária, através da qual será construído o novo futuro. Com o tempo percebe-se que os filhos, sejam biológicos, adotados ou em qualquer condição de vida, precisam mesmo é serem amados. Cabe aos pais amá-los, protegê-los e fazer de tudo para que progridam e sejam felizes. No final, a idade, a etnia, a condição de doença ou deficiência são somente componentes da diversidade humana, que não agregam ou desagregam valor, pois o que importa é o amor de pai ou de mãe, quase sempre incondicional.