O Dia

Precisamos ler Paulo Freire

- Eugênio Cunha Professor e jornalista

Um escritor amigo meu disseme certa vez que há escritores que precisam ser lidos e relidos sempre, não somente por seus pares literatos, mas por todos que se interessam pela humanidade.

O amigo citou Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Euclides da Cunha, Hemingway. Segundo ele (e eu concordo), além da qualidade dos textos, as razões para esses autores serem atemporais, provocando a necessidad­e de serem relidos, são as perenes mazelas sociais, as carências e incompletu­des humanas.

Ao ouvir as explicaçõe­s do meu amigo, cheguei à conclusão que também assim deve ocorrer com alguns autores da educação. Precisam ser lidos e relidos, não somente por seus pares do ensino, mas por todos que desejam constituir uma sociedade mais justa e solidária, na qual tenhamos o prazer de viver.

De imediato, pensei em Paulo Frei- re. Fiquei mais convicto depois que tomei conhecimen­to dos dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) divulgados recentemen­te, mostrando que a cada três dias há um registro de violência contra o professor no Rio de Janeiro.

Em 25% das ocorrência­s violentas, o autor é um aluno, e as professora­s são as maiores vítimas: representa­m 75% dos casos. A vulnerabil­idade do trabalho docente se intensific­a quando se trata do sexo feminino. As agressões e ameaças mostram o quanto lecionar se tornou uma atividade de risco. São mazelas sociais, da formação humana.

Freire escreveu muitos livros. Talvez o querido leitor ainda não o conheça. Após a sua morte, em 1997, passou a ser considerad­o Patrono da Educação Brasileira.

Trata-se de um dos educadores mais lidos no mundo, que via a educação como um exercício de cidadania, de mudança, de instrument­alização para transforma­ção social.

Muitas de suas obras traziam no título a palavra “pedagogia”. Assim, escreveu ‘Pedagogia do Oprimido’, ‘da Esperança’, ‘da Autonomia’.

Em seus escritos, Paulo Freire sempre revelou profundo amor e elevada estima ao ato de ensinar e de aprender. O fazer pedagógico que se constrói através de uma relação dialógica.

Ler e reler suas obras significa estabelece­r uma respeitosa conexão com o papel social da docência, ofício que ainda é visto com pouco ou nenhum valor.

Penso que se hoje estivesse vivo, Freire poderia escrever a ‘Pedagogia do Respeito’, ensinando que a maior violência contra a educação é a violência contra o professor.

“Em 25% das ocorrência­s violentas, o autor é um aluno, e as professora­s são as maiores vítima”

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil