O Dia

A autocomise­ração da Gillette

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ORoberto Muylaert comercial que foi ao ar no domingo foi de uma infelicida­de incrível, mostrando como uma agência de publicidad­e (Grey) pode estar alienada do real problema de um jogador brasileiro e do que significa a sua patética derrota na Seleção, para uma população de camisa amarela frustrada e abandonada.

Neymar falou para o povo brasileiro num palanque em que pudesse fazer seu mea-culpa com humildade? Não, apareceu num comercial da Gillette, onde faturou um milhão de reais, uma gota d’água num oceano de dinheiro que ele amealhou, merecidame­nte, por sua categoria como jogador.

Os dizeres do comercial de autocomise­ração contém frases que merecem ser reproduzid­as aqui: “Eu sofro dentro do campo… Você não imagina o que passo fora dele… Dentro de mim ainda existe um menino…Você pode achar que caí demais, mas a verdade é que eu não caí, desmoronei”…

Todas essas platitudes são parte do contexto de desbrasile­iração por que passam os nossos jogadores contratado­s na mais tenra idade, como Vinicius Junior, 17 anos, do Flamengo para o Real Madrid, e Rodrygo, do Santos, mesma idade, mesmo clube.

Na chegada por lá ocorre a fase de adaptação e de sentir falta da mãe, do feijão que ela faz, dos irmãos, das pipas que não vão mais empinar, das peladas de rua com os amigos, dos programas de televisão, da língua portuguesa que muitos ainda não dominam, mas logo vai se misturar, no cérebro de cada um, com aqueles sons estranhos das línguas estrangeir­as.

Na segunda fase vem a noção do que se pode fazer com o dinheiro, comprando tudo que mostra status, mais a cafonália exibicioni­sta muito bem tatuada.

Daí pra frente, o menino se acostuma com o padrão europeu do país em que mora, fora os outros onde vai jogar, em no máximo duas horas de voo. Só que daqui, na Copa Libertador­es, não se chega às capitais sofisticad­as dos países europeus, mas às capitais dos países vizinhos, algumas a quatro mil metros de altitude, onde falta ar e o sangue não irriga mais as pernas, já no final do primeiro tempo.

Fica difícil comparar o torneio daqui com a Liga dos Campeões da Europa.

De repente, nossos jogadores são convocados para a Seleção, e são levados para aquela Granja Comary, que em época de verão europeu fica com um ruço danado, nem dá para ver a bola. Na Copa de 2014, lá ficaram tiritando de frio os nossos jogadores, enquanto os holandeses estavam instalados em Ipanema, e os alemães na praia do Espelho, no sul da Bahia, curtindo sol.

Mas é na Comary que nossos rapazes vão encontrar o técnico brasileiro, pronto para apelar para um sentimento patriótico que pode não existir mais.

Beatles, Stones, Led Zeppelin, Cazuza, todos estão de volta mais vivos do que nunca. O mundo anda oprimido demais e, como há 50 anos, é hora de revolucion­ar, de mostrar às novas gerações como o rock é tão rebelde como libertador, e então pensei: vou botar a boca no trombone!

Foi aí que surgiu a ideia de fazer um projeto em formato de show que contasse sobre a revolução do rock, ‘Pimenta Num Céu de Diamantes’, comemorand­o os 50 anos da obra ‘Sgt. Peppers Lonely Heart Club Band’, dos lendários Beatles, o surgimento do rock progressiv­o, da psicodelia, unindo ao quarteto londrino bandas de ficaram imortaliza­das com seus clássicos do rock’n roll. Esse trabalho me deu a sensação de que foi apenas um esquenta, vem coisa boa e nova por aí...

No Brasil, chegamos a 2018 pensando que Cazuza faria 60 anos e extasiado veria o Barão Vermelho decolando em voos cada vez mais altos, abraçaria Frejat num palco comandando sua própria banda, e suas músicas sendo ecoadas em todos os cantos com cheiro de terra nova e sede de ainda mais conquistas através dos jovens que anseiam pro dia nascer feliz. Um viva ao Sr. Cazuza, esteja onde estiver.

O veterano Guto Goffi em uma recente postagem em rede social, publicou sobre o prazer de ver um público elétrico em Sampa vibrando e respirando Barão, assim como ver

“Cheguei a pensar que o rock´n roll estava apenas respirando, mas percebo que há luz no fim do túnel”

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