O Dia

‘Cuidado com Neguin’: entre favela e asfalto

Monólogo escrito e encenado por Kelson Succi surgiu de lambe-lambes colados pela cidade e fala sobre preconceit­o

- BRUNNA CONDINI brunna.condini@odia.com.br

Estreia amanhã na Casa Rio, em Botafogo, ‘Cuidado com Neguin’, monólogo escrito e encenado por Kelson Succi. Com 24 anos, sete deles dedicados ao teatro, o ator aborda a visão de “um ‘neguin’ preto, pobre e favelado ao deixar a favela para encarar a cidade”. Através da montagem, ele pretende lançar um olhar artísticoc­rítico sobre a sua vivência entre a favela e a cidade.

“O título surgiu de uma série de lambe-lambes que comecei a colar pela cidade em 2017, após uma residência artística de que participei em Londres, a convite da ONG Britânica People’s Palace Projects”, conta Kelson. “A minha ideia era entender o impacto dessas palavras juntas nas pessoas, de acordo com suas vivências pessoais. Todos os ‘lambes’ carregam logo abaixo do título uma frase que tem como objetivo descontext­ualizar o sentido pejorativo dessa afirmação, com frases de empoderame­nto para os ‘neguins’ que ocupam a cidade”.

A peça, produzida através de financiame­nto coletivo, tem bilheteria aberta e cada um paga o que puder. O intuito é que a mensagem do texto possa chegar a um número maior de pessoas.

“Toda a verba investida inicialmen­te veio do próprio bolso da nossa equipe, que topou trabalhar de forma colaborati­va por acreditar na potência da obra e a necessidad­e desse discurso. O teatro e a arte são mais do que instrument­os de transforma­ção social, são reflexos de uma época e necessitam de representa­tividade”, conclui.

A FAVELA E A CIDADE

Nascido e criado no Complexo do Alemão, Kelson destaca o que o público vai ver em cena. “É o retrato de um cotidiano caótico vivido pela grande maioria da população, que não é representa­da nas mídias tradiciona­is”, esclarece.

Ele afirma que ser ator nunca fez parte dos sonhos. “Mas a arte sempre me encantou”, lembra o ator, que estudou nas escolas Spetaculu e O Tablado. E fala sobre os planos com seu primeiro espetáculo.

“O nosso objetivo é atravessar o país e cruzar fronteiras com essa peça, para que os ‘neguins’ e ‘neguinhas’ de diferentes realidades possam se sentir representa­dos e contribuir com a obra”, afirma o ator.

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Kelson (foto): monólogo sobre o cotidiano de uma população “não representa­da nas mídias tradiciona­is”

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