Dentro do hospital, o descaso levou à morte
Irene teve atendimento recusado no Getúlio Vargas após nove horas de peregrinação
Irene de Jesus Bento, de 54 anos, morreu após ter atendimento negado na Emergência do Hospital Getúlio Vargas. As acusações de negligência no socorro foram feitas pelo filho dela, que gravou vídeo para provar.
APolícia Civil, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) e a Secretaria Estadual de Saúde investigam a morte de Irene de Jesus Bento, de 54 anos, que foi internada na emergência do Hospital Getúlio Vargas, na Penha. O caso aconteceu no último sábado, quando o filho da vítima, Rangel Luiz Marques da Silva, 35, deu entrada com a mãe na unidade, às 14h, alegando mal-estar e depois de peregrinar em busca de tratamento, teve atendimento recusado no hospital.
Na tarde de ontem, o diretor do hospital, o médico Paulo Ricardo Lopes, decidiu afastar do serviço os funcionários da unidade que estavam de plantão.
Segundo Rangel, a triagem no hospital teria sido feita por uma recepcionista, que verificou a pressão de sua mãe e disse que Irene não tinha nada. Em seguida, ainda no Getúlio Vargas, uma enfermeira-chefe teria perguntado se Irene havia sido atendida. No entanto, a servidora disse que “não atendia caso que não fosse grave, somente se fosse baleado ou algum acidentado muito grave”, disse Silva. Ela então foi liberada, mas o filho a levou, por conta própria, à UPA da Penha, ao lado do hospital.
Por volta das 15h15, Irene passou por mais uma triagem para descobrir, afinal, a enfermidade. No local, segundo Rangel, ela piorou e, após dar entrada na sala amarela, foi encaminhada para o setor vermelho, cujo atendimento é direcionado a casos mais graves. Funcionários ainda tentaram entubá-la, mas ela estava desorientada e desidratada, de acordo com o filho. Irene teve uma parada cardiorrespiratória com duração de 30 minutos, e foi levada de ambulância, às 22h, para a emergência do Getúlio Vargas novamente.
Após esperar cerca de meia hora por atendimento no Getúlio, o filho da vítima decidiu filmar o que estava acontecen- do: funcionários parados, sem realizar atendimento, enquanto a mãe aguardava o socorro com dor. Nas imagens, estava uma médica, sentada, manuseando um celular.
Irene de Jesus morreu às 22h40 de sábado por excesso de ácido no sangue, em decorrência de complicações geradas por diabetes. “Vamos processar o estado, agora vamos lutar por Justiça para não ficar impune e não acontecer com outras pessoas. Se ninguém fizer nada, vai continuar acontecendo”, afirmou Rangel. Ele também registrou o caso na 38ª DP (Brás de Pina).
De acordo com o Cremerj, que abriu uma sindicância para apurar os fatos, o código de ética médico condena qualquer tipo de imprudência, omissão ou negligência no socorro a pacientes.
“Vamos pedir também esclarecimentos da UPA e os prontuários, para conferir funcionário por funcionário que trabalhou no dia que a Irene morreu”, destacou o presidente do conselho, o médico Nelson Nahon. Segundo ele, o governo estadual tem que aplicar 12% na saúde, mas apenas 5% foram repassados.
Irene tinha sete filhos e nove netos, um deles fará 1 ano e estava sob sua guarda.