‘Isso não é aceitável’, diz conselho médico
> Para o presidente do Conselho Federal de Medicina, Carlos Vital, a perda de 10% dos leitos do SUS em oito anos prejudica os 160 milhões de brasileiros que dependem exclusivamente da rede pública. “Perdemos uma média de 12 leitos por dia nos últimos oito anos. Sem leitos de internação não há como o médico prestar seus cuidados ao paciente. Isso não é aceitável no país nem em nenhum lugar do mundo”.
O Ministério da Saúde argumenta que até o sistema de saúde inglês, referência mundial de sistema público de saúde, reduziu em 30% o número de leitos na última década. No Reino Unido, no entanto, a taxa está em 3,2 por 1 mil habitantes. E, por lá, o investimento em prevenção é maciço. A taxa do Brasil hoje é de 1,9, contra 2,8 em 2010. A recomendação oficial da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 3,2 leitos por 1 mil habitantes.
Para Vital, é preciso financiamento mais adequado e competência administrativa com planejamentos para suprir a falta de leitos. “Não podemos permitir que as pessoas deixem de ser atendidas por falta de leitos simples de internação. Isso significa que muitas vidas podem ser tolhidas e sequelas que poderiam ser evitadas estejam presentes na vida desses pacientes”, disse.
A vice-diretora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Maria de Lourdes Tavares Cavalcante, vê o retrocesso também como reflexo de políticas que permitiram que serviços terceirizados fossem priorizados. “Os repasses eram mais específicos e regulados. Gastos com atenção primária eram obrigatórios. Agora o município recebe o recurso tem investimento livre”, disse.
“Seja quem for o novo governo, terá que investir pesadamente em modernizar a gestão”, diz José Roberto Afonso, especialista em Finanças Públicas e professor do IDP. “É impensável, por exemplo, que, em 2018, ainda não se tenha um cadastro único, nacional,com todos os dados, desde o sistema público, até o de saúde complementar privada, de cada brasileiro. Isso é o primeiro passo”.