O Dia

Celular antes de dormir é péssimo para o sono, dizem especialis­tas

Mexer no celular antes de dormir interfere no repouso e pode provocar consequênc­ias preocupant­es para saúde

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Um hábito cada vez mais comum, mas que pode trazer consequênc­ias graves para a saúde. Checar o celular antes de dormir se tornou rotina para muitas pessoas. Pesquisas mostram, no entanto, que o uso do aparelho interfere na qualidade do sono e no bem-estar de crianças e adultos. As consequênc­ias para a saúde são tão graves quanto: vão de diabetes, a obesidade e depressão, além de baixo rendimento escolar para os pequenos.

De acordo com um levantamen­to da Faculdade de Medicina de Mogi das Cruzes, 93% dos alunos da universida­de mantêm o celular próximo de si, 76% utilizam o mesmo já na cama e 68% acordam caso ele toque. Além disso, 79% usam o celular por pelo menos 15 minutos após se deitarem. Para Andrea Bacelar, neurologis­ta e presidente da Associação Brasileira do Sono (ABS), os eletrônico­s interferem diretament­e no sono não só pelo atrativo de estar conectado, mas também pela luminosida­de. Os aparelhos emitem uma luz azul, chamada de luz visível de alta energia, que afeta um tipo de fotorrecep­tor do olho. A faixa de luz é classifica­da como ultraviole­ta (nociva) até infraverme­lho (essencial) e a azul é justamente o ponto que quase atinge o topo do eixo nocivo.

“Nós precisamos da penumbra para produzir a melatonina, o hormônio do sono. E esses aparelhos inibem, através da retina com a luz azul, essa produção”, explicou Andrea. O efeito negativo foi comprovado pela revista Science Translatio­nal Medicine, que comparou alterações no organismo provocadas pelo uso do celular antes de dormir e pelo consumo de café. A cafeína atrasou cerca de 40 minutos o sono habitual de uma pessoa, já a luz do telefone atrasou 85 minutos, quase uma hora e meia.

Já o King’s College, da Universida­de de Cambridge, reuniu dados de 125 mil crianças e adolescent­es entre 6 e 19 anos que usam o aparelho móvel antes de dormir, e verificou a ocorrência de doenças como obesidade e depressão infantil. A médica da ABS esclarece que a tecnologia passou a influencia­r no ritmo biológico do ser humano. “A promoção do sono, a vontade de dormir, começa a aparecer mais tarde do que o habitual. Só que o relógio vai despertar independen­te da hora que dormimos, logo acontece um débito. A população hoje vive em privação do sono”, afirmou. Ela reforça que um adulto precisa descansar por, no mínimo, 7 horas por noite. Para adolescent­es, o tempo necessário sobe para 9h e no caso das crianças, até 12h de sono.

O problema, contudo, não deve ser confundido com a insônia. “A insônia muitas vezes está relacionad­a a outra causa, como a ansiedade. Já quem retarda o sono pelo uso do celular consegue dormir quase que imediatame­nte quando desliga a exposição da luz do aparelho. O sono, nesse caso, vem com mais facilidade”, disse Andrea.

Usuária assídua das redes sociais, a fisioterap­euta Monique Fernandes, de 32 anos, resume o uso do smartphone como “um vício que não tem controle”. Ela checa diariament­e o celular na hora de deitar. “Quando vou ver já passou da hora de dormir. Eu durmo às vezes cinco horas por noite e atrapalha muito no dia seguinte”, contou.

Para resolver a questão, a neurologis­ta dá três dicas para quem sempre está conecta: “Disciplina é fundamenta­l. Nós precisamos desacelera­r pelo menos uma hora antes de deitar. Então devemos finalizar conversas, deixar de responder e-mails, e entrar em redes sociais. O celular não deve ficar no quarto a noite”, reforçou. A exposição ao sol pela manhã também é um sincroniza­dor do sono, pontuou Andreia, assim como a atividade física. “Não funcionamo­s 24 horas, precisamos nos desconecta­r”, finalizou a especialis­ta.

Precisamos da penumbra para produzir a melatonina (hormônio do sono). Esses aparelhos inibem, com a luz azul, essa produção. Andrea Bacelar, neurologis­ta

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ARTE: LUIZA ERTHAL

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