O Dia

Vereadores são acusados de procurar traficante­s para comprar votos na favela

Investigaç­ão era sobre quadrilha no morro de Niterói, mas revelou suposta ligação de bandidos com vereadores eleitos, extorsão de PMs e tráfico em presídios

- RAFAEL NASCIMENTO rafael.nascimento@odia.com.br WILSON AQUINO wilson.aquino@odia.com.br

Segundo o Ministério Público, escutas telefônica­s para investigar o tráfico no Morro do Cavalão, em Icaraí, revelam crime dos políticos nas eleições de 2016, na qual foram eleitos. Polícia prendeu sete pessoas no local.

Agigantesc­a operação policial de ontem, no Morro do Cavalão, em Icaraí, área nobre de Niterói, expôs suposta compra de votos por vereadores e negociaçõe­s criminosas feitas em presídios ou em batalhões da PM. A investigaç­ão do Ministério Público e da Polícia Civil constatou que o tráfico do Morro do Cavalão, comandado há 30 anos pela mesma família, vende drogas em presídios, paga propina regularmen­te a PMs e, na eleição, supostamen­te negocia a venda de votos a políticos da cidade.

Cerca de 160 policiais, com apoio de dois helicópter­os, cercaram o Cavalão para cumprir 81 mandados de prisão e 84 de busca e apreensão. Seis homens e uma mulher foram presos, 18 procurados já estavam atrás das grades e os demais investigad­os não foram localizado­s. A operação é resultado de dois anos de trabalho. “As investigaç­ões começaram em março de 2016 e vimos um contato intenso entre os traficante­s do Morro do Cavalão”, disse a promotora Roberta Dias Laplace. “Após isso, fizemos uma primeira quebra de intercepta­ção telefônica e começamos a investigar outras pessoas. Ao todo, fizemos 10 intercepta­ções telefônica­s na qual monitoramo­s mais de uma centena de pessoas da localidade”, afirmou. Segundo o MP, após as escutas foi possível estabelece­r “a espinha dorsal” da liderança do tráfico de drogas da localidade. “Fizemos diligência­s, prendemos algumas pessoas e descobrimo­s que mesmo de dentro de presídios — inclusive de segurança máxima — traficante­s exerciam grande liderança no tráfico”, contou Laplace.

De acordo com a investigaç­ão, o tráfico no Cavalão é comandado por Reinaldo Medeiros Ignácio, o Kadá, do Presídio Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Ele passa ordens para a quadrilha através da companheir­a Monique Pereira de Almeida. Os filhos do casal, Rafael Medeiros Ignácio e Reinaldo Medeiros Ignácio Junior, bem como cunhados, primos e outros parentes compõem a cúpula da organizaçã­o criminosa, do Comando Vermelho (CV). A denúncia do MP aponta que o tráfico no Cavalão fatura R$ 150 mil por semana. Dependendo da época, a rentabilid­ade do bando pode chegar a R$ 1 milhão, por mês.

A denúncia discorre sobre extorsões feitas por PMs contra traficante­s do Cavalão, bem como a cobrança de propina diária. No entanto, apesar de a investigaç­ão ter durado dois anos, nenhum PM foi denunciado. Em nota, a Polícia Militar la-

mentou que o 12º BPM (Niterói) e a Corregedor­ia não foram notificado­s, para que pudessem auxiliar na apuração dos fatos, inclusive na identifica­ção dos acusados. “Causou estranheza o fato de a denúncia ter sido baseada no depoimento de um criminoso detido, cuja facção tem sido sistematic­amente combatida por policiais militares da unidade de Niterói”.

O MP diz que no sistema penitenciá­rio os bandidos criaram o ‘Blocão do Cavalão’. “Traficante­s, que falam muito ao telefone com os associados soltos, também recebem aparelhos de tele-

fonia celular e drogas dentro das unidades prisionais, para revendê-las no interior dos presídios”, assegura a denúncia.

O secretário de Administra­ção Penitenciá­ria (Seap), delegado David Anthony, ocupa o cargo desde janeiro (período que engloba as investigaç­ões), não quis se manifestar.

Apesar de o MP, na denúncia, detalhar episódios em que cocaína, maconha, celulares e acessórios, entraram nos presídios através de traficante­s do Morro do Cavalão, nenhum agente penitenciá­rio foi citado.

Nas escutas não vemos informaçõe­s sobre eles ligados ao tráfico. Nas conversas, há informaçõe­s de que haveria uma suposta compra de votos em dias anteriores à eleição de 2016 ROBERTA LAPLACE, promotora

Conheço e já fui no Cavalão. Tenho amigos lá de mais de 20 anos, mas não tive votos lá. As pessoas falam o que quer RENATINHO DA OFICINA, vereador

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ESTEFAN RADOVICZ
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ESTEFAN RADOVICZ / AGÊNCIA O DIA Operação Polícia Civil e Ministério Público cumpre mandados de prisão no Morro do Cavalão, em Niterói
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DIVULGAÇÃO Paulo Bagueira e Renatinho da Oficina negam ligação com traficante­s

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