Vereadores são acusados de procurar traficantes para comprar votos na favela
Investigação era sobre quadrilha no morro de Niterói, mas revelou suposta ligação de bandidos com vereadores eleitos, extorsão de PMs e tráfico em presídios
Segundo o Ministério Público, escutas telefônicas para investigar o tráfico no Morro do Cavalão, em Icaraí, revelam crime dos políticos nas eleições de 2016, na qual foram eleitos. Polícia prendeu sete pessoas no local.
Agigantesca operação policial de ontem, no Morro do Cavalão, em Icaraí, área nobre de Niterói, expôs suposta compra de votos por vereadores e negociações criminosas feitas em presídios ou em batalhões da PM. A investigação do Ministério Público e da Polícia Civil constatou que o tráfico do Morro do Cavalão, comandado há 30 anos pela mesma família, vende drogas em presídios, paga propina regularmente a PMs e, na eleição, supostamente negocia a venda de votos a políticos da cidade.
Cerca de 160 policiais, com apoio de dois helicópteros, cercaram o Cavalão para cumprir 81 mandados de prisão e 84 de busca e apreensão. Seis homens e uma mulher foram presos, 18 procurados já estavam atrás das grades e os demais investigados não foram localizados. A operação é resultado de dois anos de trabalho. “As investigações começaram em março de 2016 e vimos um contato intenso entre os traficantes do Morro do Cavalão”, disse a promotora Roberta Dias Laplace. “Após isso, fizemos uma primeira quebra de interceptação telefônica e começamos a investigar outras pessoas. Ao todo, fizemos 10 interceptações telefônicas na qual monitoramos mais de uma centena de pessoas da localidade”, afirmou. Segundo o MP, após as escutas foi possível estabelecer “a espinha dorsal” da liderança do tráfico de drogas da localidade. “Fizemos diligências, prendemos algumas pessoas e descobrimos que mesmo de dentro de presídios — inclusive de segurança máxima — traficantes exerciam grande liderança no tráfico”, contou Laplace.
De acordo com a investigação, o tráfico no Cavalão é comandado por Reinaldo Medeiros Ignácio, o Kadá, do Presídio Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Ele passa ordens para a quadrilha através da companheira Monique Pereira de Almeida. Os filhos do casal, Rafael Medeiros Ignácio e Reinaldo Medeiros Ignácio Junior, bem como cunhados, primos e outros parentes compõem a cúpula da organização criminosa, do Comando Vermelho (CV). A denúncia do MP aponta que o tráfico no Cavalão fatura R$ 150 mil por semana. Dependendo da época, a rentabilidade do bando pode chegar a R$ 1 milhão, por mês.
A denúncia discorre sobre extorsões feitas por PMs contra traficantes do Cavalão, bem como a cobrança de propina diária. No entanto, apesar de a investigação ter durado dois anos, nenhum PM foi denunciado. Em nota, a Polícia Militar la-
mentou que o 12º BPM (Niterói) e a Corregedoria não foram notificados, para que pudessem auxiliar na apuração dos fatos, inclusive na identificação dos acusados. “Causou estranheza o fato de a denúncia ter sido baseada no depoimento de um criminoso detido, cuja facção tem sido sistematicamente combatida por policiais militares da unidade de Niterói”.
O MP diz que no sistema penitenciário os bandidos criaram o ‘Blocão do Cavalão’. “Traficantes, que falam muito ao telefone com os associados soltos, também recebem aparelhos de tele-
fonia celular e drogas dentro das unidades prisionais, para revendê-las no interior dos presídios”, assegura a denúncia.
O secretário de Administração Penitenciária (Seap), delegado David Anthony, ocupa o cargo desde janeiro (período que engloba as investigações), não quis se manifestar.
Apesar de o MP, na denúncia, detalhar episódios em que cocaína, maconha, celulares e acessórios, entraram nos presídios através de traficantes do Morro do Cavalão, nenhum agente penitenciário foi citado.
Nas escutas não vemos informações sobre eles ligados ao tráfico. Nas conversas, há informações de que haveria uma suposta compra de votos em dias anteriores à eleição de 2016 ROBERTA LAPLACE, promotora
Conheço e já fui no Cavalão. Tenho amigos lá de mais de 20 anos, mas não tive votos lá. As pessoas falam o que quer RENATINHO DA OFICINA, vereador