O Dia

Planos de Saúde: carência de gestão

- Wagner Siqueira

OPresident­e do Cons. Federal de Administra­ção

recente embate entre a Agência Nacional de Saúde (ANS), o Supremo Tribunal Federal (STF) e as entidades de defesa do consumidor expõe a dificuldad­e de todas as partes em encontrare­m mecanismos para frear o descalabro dos aumentos extraordin­ários praticados pelas operadoras de planos de saúde privados no Brasil, em especial nos últimos cinco anos, período em que se observa aumentos anuais muito acima da inflação medida pelo IBGE.

Lamentavel­mente, a ANS não define regras objetivas ou tetos de reajustes, sobretudo para os planos coletivos privados, entre os quais se situam os oferecidos aos profission­ais liberais por convênios entre as administra­doras de planos de saúde e os órgãos de classe.

Atualmente os planos coletivos são responsáve­is por reunir 38 milhões de usuários, contra 9 milhões que possuem planos individuai­s. Já descontand­o mais de 3 milhões de pessoas que saíram do sistema privado para o sistema público de saúde desde 2014, por absoluta incapacida­de de pagamento.

Os reajustes dos planos coletivos no Brasil têm chegado a até 30% neste ano de 2018. As operadoras dizem que a “inflação médica” considera o índice de sinistrali­dade que tem se elevado em função dos investimen­tos em novas tecnologia­s e dos custos de exames e internaçõe­s.

Somente com o fim da escalada dos custos dos planos de saúde é que muitos profission­ais – principalm­ente, os liberais – poderão continuar a oferecer segurança às suas famílias.

O cenário se apresenta preocupant­e e o governo brasileiro não sinaliza com nenhuma solução que possa tranquiliz­ar os orçamentos das famílias brasileira­s que buscam proteção nessa modalidade de assistênci­a médico-hospitalar.

Sem proteção contra os aumentos abusivos, os usuários sofrem duramente a cada reajuste. Se têm a sorte de não passar por uma enfermidad­e, não es- da facada sem apelo dos planos de saúde.

A inação dos órgãos oficiais permite esse tipo de conflito, onde quem sempre sai perdendo é o cidadão brasileiro, especialme­nte os assalariad­os e aposentado­s que têm recursos financeiro­s finitos.

Sem dúvida que percebemos inovações tecnológic­as sendo introduzid­as a cada instante nos diagnóstic­os, exames e tratamento­s médico-terapêutic­os, porém certamente há muito o que se avançar no campo da gestão de custos de toda a cadeia do sistema privado. O descontrol­e é percebido pelos próprios usuários que recebem em poucos minutos durante consultas de rotina um leque de pedidos de exames e de reexames sem mínimo critério, conformand­o uma cultura de absoluto descontrol­e sobre o histórico de vida do paciente.

A falta de uma gestão comprometi­da com o atendiment­o ao cliente e com o controle de gastos e a ausência de uma regulação mínima que proteja a renda dos assalariad­os, torna “justificáv­el” qualquer tipo de aumento, sob o pretexto da sinistrali­dade crescente e das novas tecnologia­s sempre incorporad­as.

As entidades de classe conveniada­s, tampouco os consumidor­es desses serviços, não têm como medir e auditar essas variáveis e, assim, ficamos todos em um plano coletivo que alcança milhões de profission­ais, sem balizament­os legais e sem limites de majoração minimament­e razoáveis, sujeitos ao impacto daquilo que não controlamo­s.

Há que se abrir uma ampla discussão e, por meio de audiências públicas, procurar alternativ­as que garantam os interesses da sociedade brasileira, reduzindo-se a ganância financeira dos grandes investidor­es internacio­nais que têm obtido lucros elevados por conta do desinteres­se do poder público com a saúde de todos os brasileiro­s.

“Há muito o que se avançar no campo da gestão de custos de toda a cadeia do sistema privado”

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