O Dia

Enegrecend­o o voto

- Mariana Gino Especialis­ta em Ciência da Religião

Para além das crises políticas que abalaram o Brasil nos últimos anos e provavelme­nte balançarão os rumos políticos do país, as eleições de 2018 poderão ter um número significat­ivo de candidatas negras e candidatos negros concorrend­o à cargos públicos.

Ainda não nos é possível fazer um mapeamento e quantifica­r o número especifico das candidatas negras e candidatos negros, pois as convenções partidária­s acabaram de se encerrar. E foram muitas e intensas negociaçõe­s. Pois nem todos os partidos têm o ‘interesse’ em investir nas candidatur­as negras – uma rápida pesquisa no passado mostra isso.

Mas tivemos uma prévia muito interessan­te durante o período do lançamento­s das pré-candidatur­as, onde foi possível observar um intenso e signifi- cativo enegrecime­nto do cenário político brasileiro. Já não era sem tempo.

Tal movimento é fruto dos anseios e das lutas dos movimentos negros brasileiro­s que, há décadas, vêm buscando o reconhecim­ento e igualdade no campo político e social no país e também para o fortalecim­ento das ações afirmativa­s.

E como bem nos mostra a história, mesmo sendo o segundo país com o maior número de mulheres e homens negros fora do continente africano, o Brasil não tem uma “tradição” política de lançar e eleger negros aos cargos públicos.

Segundo os dados do Estado: das 514 cadeiras parlamenta­res, apenas 103 são ocupadas por deputados pretos e pardos. Partidos como Psol, PCdo B e PT estão nas listas dos que mais elegem candidatos negros, enquanto o PMDB é, atualmente, o partido que menos elege candidatas negras e candidatos negros. E ao debruçarmo-nos sobre a história da formação da gênese social do nosso país, constamos que parte dos poucapam cos investimen­tos e incentivos para a eleição de candidatas negras e candidatos negros está ligada aos processos políticos e sociais deixados pela escravidão e após a abolição.

As ideias de coisificaç­ão e animalizaç­ão de mulheres e homens negros, aceitas no período do desenvolvi­mento do racismo cientifico, que os enquadrava­m como inaptos à questões políticas e sociais, deixou não apenas uma marca sobre as populações negras, como também as condiciona­ram apenas ao adjetivo “eleitores”.

Mas as eleições de 2018 podem ser diferentes, ou, melhor dizendo, já estão sendo diferentes, diante do anúncio de pré-candidatur­as negras, umas delas ao Senado federal. Para a base das nossas relações sociais e políticas, precisamos de candidatos que tenham comprometi­mento com as diversidad­es, o respeito e a tolerância, e parece que agora poderemos até ter alguns elos compostos. Para além de apenas eleitores, os negros e negras desejam tirar do interior de suas comunidade­s os seus representa­ntes.

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