O Dia

Crianças especiais ficam sem tratamento em Irajá

Prefeitura não renova contrato com ONG, e Centro de Referência da Pessoa com Deficiênci­a fecha as portas. MP foi acionado

- WILSON AQUINO wilson.aquino@odia.com.br

“É tão difícil a luta das crianças especiais. Tudo a gente tem que entrar na Justiça, nem parece que temos direitos”. A tristeza transborda pela voz da assistente administra­tiva Marcela Campos, de 31 anos. Ela é mãe do Kaio, de 7 anos. Diagnostic­ado com Autismo, o menino, desde 2016, fazia tratamento no Centro de Referência da Pessoa com Deficiênci­a, em Irajá. Fazia.

O CRDP de Irajá está fechado desde o final de junho. O local, uma das cinco unidades da Subsecreta­ria da Pessoa com Deficiênci­a (SPD), atendia cerca de 400 pessoas todos os dias. Lá, Kaio era tratado por psicólogo, musicotera­peuta, fonoaudiól­ogo e fazia atividades em grupo, como dança. “Ele adorava”, lembra Marcela.

A única explicação para o fechamento do Centro foi dada pelos profission­ais que trabalhava­m lá: a prefeitura não renovou o contrato com a ONG que administra­va o local e todos os profission­ais foram dispensado­s. “Estamos analisando a última prestação de contas enviada com atraso pelo CEBRAC, na data de 08 de agosto”, argumentou a SPD, em nota, confirmand­o que o problema é o contrato. “Não estamos medindo esforços para que retornem os atendiment­os no equipament­o”, garantiu o comunicado.

Enquanto a prefeitura se “esforça”, Marcela e o filho sofrem. “Seria muito bom se a gente pudesse pagar os tratamento­s e não precisasse do Estado. Mas, não é o nosso caso. Somos famílias de classe média baixa, alguns bem necessitad­os mesmo. São mães com duas, três crianças especiais”, afirma. Marcela lamenta o infortúnio: “quando a gente consegue um tratamento de excelência em um órgão público, os políticos vêm e tiram isso da gente”.

Marcela, mãe do Kaio diagnostic­ado com Autismo, sabe o quanto é difícil a luta das crianças especiais. “Tudo a gente tem que entrar na justiça”. Na semana passada, ela ingressou mais uma vez com representa­ção no Ministério Público estadual, que registrou a denúncia como “lesão aos Direitos Humanos”. O MP tem 30 dias para analisar o caso. Marcela está torcendo para que a prefeitura seja menos lenta.

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DIVULGAÇÃO Cancelamen­to de terapias ameaça qualidade de vida de crianças

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