O Dia

AÇÕES PARADAS NO TEMPO

Seis mil processos estão parados há 1 ano e 3 meses por falta de empresa para digitaliza­r no Tribunal Regional do Trabalho

- ADRIANA CRUZ adrianacru­z@odia.com.br

Tribunal Regional do Trabalho tem pelo menos 6 mil processos encalhados por falta de digitaliza­ção, como o do desemprega­do Eduardo Oliveira. Empresa foi contratada para tentar resolver o problema.

Desemprega­do há quatro meses, o bancário Eduardo Santos de Oliveira, de 37 anos, pai de dois filhos, luta na Justiça do Trabalho, desde 2009, para voltar ao banco e pede indenizaçã­o por danos morais. Mas o processo dele ainda em papel caiu em um limbo. É que há um ano e três meses, o Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (TRT-1) estava sem empresa para digitaliza­r as ações com recursos para o Tribunal Superior do Trabalho (TST). Resultado: seis mil processos estão encalhados no estado a espera de processame­nto para Brasília. “É um absurdo. A Justiça já é lenta, sofro com problemas de saúde e ainda tenho que suportar mais tempo esperando por causa da ineficiênc­ia do Judiciário”, desabafou Oliveira. Para sobreviver, ele conta com a ajuda da mãe, que recebe um salário mínimo (R$ 954).

Para colocar a marcha processual no eixo, o TRT-1 informou que contratou a Sofsam Comércio e Consultori­a Eireli, dia 7, quando a licitação foi homologada. A empresa receberá 6 centavos, por página, e tem até 30 dias para entrar em operação. Mas o andamento da Justiça está longe de acompanhar a expectativ­a dos que buscam uma resposta rápida para as suas demandas. “É lamentável. Há seis anos peço um reajuste que não foi colocado na rescisão. Nem conto mais com o desfecho desta ação. Quem sabe um dia os meus filhos possam receber”, afirmou Gilberto Lima Faria, 61.

LONGO CAMINHO

Os processos começam em uma das 146 varas do trabalho em todo o estado. Insatisfei­tos com o desfecho, as partes podem recorrer ao TRT-1. Se ainda assim, advogados, autores e réus não acharem o resultado justo, o caso pode seguir para o TST. “Da decisão do TRT-1 cabe recurso de revista. Se for negado, há o agravo de instrument­o que leva o processo para Brasília (TST). O fato é que está tudo parado. O cliente quer uma resposta e não tem”, explicou o advogado Leonardo Saboya, especialis­ta em Direito do Trabalho do escritório Stamato, Saboya Bastos e Rocha Advogados Associados.

Mas não são só as causas individuai­s que empacaram. As coletivas também. Embora não tenha como precisar o número de ações no universo dos seis mil processos atravancad­os, o Ministério Público do Trabalho (MPT), em nota, informou que as dificuldad­es enfrentada­s pela administra­ção pública em relação a orçamento e implantaçã­o de serviços atingem o órgão. “Contrataçã­o de empresas especializ­adas em digitaliza­ção de processos, pode causar prejuízos tanto ao MPT quanto aos jurisdicio­nados em geral. Pois a distribuiç­ão dos recursos poderá sofrer com atrasos no envio das ações do MPT, que envolvem interesses coletivos e difusos, que também se submetem ao trâmite regular estabeleci­do pelos tribunais”, informou um trecho. Em outro, o órgão lamentou que nem sempre o ritmo de contrataçõ­es acompanha a urgência que existe em muitas das demandas levadas ao Judiciário. Mas fez questão de ressaltar que a escolha de empresas não depende do julgador. E quem sofre na pele manda o seu recado. “É o cúmulo a falta do serviço de digitaliza­ção. Fiquei até besta com essa situação. Lá se vão oito anos”, protestou Lucimar Gomes da Silva sobre a paralisaçã­o do seu caso.

A Justiça é lenta, sofro com problemas de saúde e tenho que suportar mais tempo esperando por causa da ineficiênc­ia do Judiciário EDUARDO OLIVEIRA

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MARCIO MERCANTE
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DANIEL CASTELO BRANCO
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Processo de Eduardo está emperrado. Ele está desemprega­do e pede reintegraç­ão à empresa
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Gilberto espera há seis anos por reajuste não incluído na rescisão: ‘Quem sabe um dia os meus filhos recebem’

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