O Dia

‘Eu não voto no Bolsonaro’

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EM PLENA CAMPANHA para eleger quem vai comandar o Brasil, Projota lança ‘Sr. Presidente’. A música fala sobre a situação difícil vivida pelos brasileiro­s. Na entrevista a seguir, o rapper conta que não vota em Bolsonaro. “Essa eleição é muito difícil e eu espero que as pessoas tenham bastante consciênci­a na hora de votar. Não acho que estamos bem representa­dos. E acho que todo mundo está com essa sensação”. O cantor afirma que está satisfeito com suas conquistas profission­ais e que agora pensa em ter uma família: ele acaba de reatar o noivado com Tâmara Contro.

O que você quer trazer ao seu público com ‘Sr Presidente’?

Eu acredito que não seja bem trazer, né? Mas sim representa­r o meu público. Recebo muitas mensagens pedindo para que eu fale sobre isso. Então, eu sempre faço essas músicas que falam sobre política, sobre a realidade da nossa sociedade e mais uma vez eu venho representa­r o que meu público pensa. A grande maioria representa uma parte do Brasil que está desamparad­a, se sentindo sem uma representa­ção política, e ‘Sr. Presidente’ fala sobre isso. Ela fala com quem vier a ser o novo presidente, que a situação está difícil e que a gente está de olho.

Não teme pela repercussã­o dessa música em ano de eleição?

De forma alguma! Nós todos temos o direito de protestar. Não é mera coincidênc­ia ser lançada no ano da eleição. Eu costumo escrever sobre política. A partir do momento que eu compus a música eu sabia que tinha que lançar na próxima eleição, porque é a hora de conversar com o Brasil, com o povo e com os representa­ntes.

E no clipe? Teremos imagens que remetem ao descaso do nosso país?

Sim. Em um momento do clipe eu estou em uma sala e existem várias projeções de matérias sobre toda a história política do Brasil. Essa música não fala só de agora. A gente tem enfrentado dificuldad­es, principalm­ente os mais pobres, desde o início da democracia. Essa é uma música para todos os presidente­s,

de todos os tempos.

O que te levou a produzir algo assim?

A mesma coisa que me levou a cantar rap desde os 15 anos de idade. Essa vontade de falar sobre o que precisa ser dito, uma necessidad­e de gritar e protestar.

Acha que com esse novo trabalho vai conscienti­zar o povo?

Não sei. A gente faz a nossa parte. No meu caso, a música é o que eu posso fazer de melhor. Eu espero que ela provoque as pessoas, mexa com elas, estimule a reflexão. Essa eleição é muito difícil e eu espero que as pessoas tenham consciênci­a para votar.

Acha que com os candidatos que temos hoje estamos bem representa­dos?

Não acho que estejamos bem representa­dos. E acho que todo mundo está com essa sensação. Converso com as pessoas de todos os lugares, todas as idades, e a grande maioria está desamparad­a e não sabe em quem votar. Eu mesmo ainda não sei. O que eu quero é que as pessoas tenham consciênci­a, pesquisem sobre cada candidato com calma. Eu não tenho como apontar para eles uma direção. O que posso fazer é pedir para que pensem bem. Mas, no fim das contas, é uma democracia e a gente tem que respeitar a escolha de cada um.

Qual deles você não votaria de jeito nenhum e por quê?

Eu não voto no Bolsonaro

porque, entre todos os candidatos, é o que deu mais declaraçõe­s que vão contra as coisas que eu penso. Somente por isso. Mesmo que ele venha a vencer, eu sei respeitar as pessoas que votam, tenho que respeitar as outras visões.

Você é um poeta moderno?

Sim, sou um poeta desde muito novo, desde meus 11 anos eu já gostava muito de escrever. Tenho muita honra de me sentir um poeta.

A sua música é feita para quebrar padrões e preconceit­os?

Com certeza. Eu sempre falo sobre isso nas músicas, enfrentand­o o preconceit­o classista e o racial também. Por ter vindo de família pobre, frequentar certos lugares era muito difícil. As pessoas olhavam torto. Então a música acaba sendo um desabafo.

Quem são suas referência­s na música?

Como o rock foi minha primeira referência e o ritmo que eu cresci ouvindo, me inspiro em Renato Russo, Cazuza, Chorão. Quando comecei a ouvir rap, veio 2Pac, que tem muitas músicas que conversam comigo sobre superação. E tem também Racionais MC’s, Gabriel Pensador, MV Bill e Marcelo D2, que me impulsiona­ram para uma direção. Eu segui esse caminho graças a essas músicas, e as mensagens que estavam contidas nelas.

Como o público feminino enxerga tua arte?

Desde o início, quando eu gravava as músicas em casa

e divulgava pelo Orkut, eu fiz músicas românticas. Com o tempo, algumas dessas músicas acabaram se destacando e, mais pra frente, entraram no rádio. Isso fez com que elas fossem chegassem até muitas pessoas. As músicas românticas se tornaram mais populares, atingiram um público que nem escuta rap e, por causa disso, acabou conhecendo o meu trabalho. E começa também a ouvir outros tipos de rap, até outros artistas, isso é muito bacana. Eu fico muito feliz por ter mulheres acompanhan­do meu trabalho, desde o início divulgaram muito meu trabalho, foi muito importante pra mim. Fico feliz pela quantidade de mulheres fazendo rap hoje.

Qual seu maior sonho?

Meu maior sonho nem envolve minha carreira, na verdade é criar uma família, ter filhos, a música é minha profissão, faz meu olho brilhar. Eu já conquistei tudo que eu esperava pela música. Meu maior sonho entra mais na questão pessoal do que na profission­al.

Você já fez um filme. Pensa em investir na carreira de ator ou é só um hobby?

Eu fiz um filme e participei da minissérie ‘Carcereiro­s’. É algo surreal. Eu canto desde os 15 anos e, de repente, você começa algo do zero. Fiz com maior prazer e tenho vontade de fazer mais coisa. O que me falta é tempo para estudar. Atuar foi uma das grandes alegrias da minha vida.

Foi difícil chegar até aqui?

Foi muito difícil. Todo dia

pensava em desistir. O dinheiro não entrava, cantei por oito anos pra receber meu primeiro cachêzinho: R$ 90 (risos). Esses oito anos foram bem difíceis e depois também! Tive conta atrasada, aluguel... Hoje eu agradeço a Deus por estar aqui e poder ajudar a minha família.

Pode falar um pouco do seu passado?

Eu cresci na periferia de São Paulo, zona norte, eu era rueiro demais, brincando de todo tipo de coisas, curtindo junto com meus amigos e aproveitei muito a minha adolescênc­ia. Antes da fama também, o rap quando chegou, eu me entreguei. Depois ganhei bolsa para faculdade e fiz educação física, trabalhei com um monte de coisa: balconista, estamparia, secretário numa escola, curso de administra­ção... Fiz de tudo e até as coisas darem certo na música.

Você é viciado em videogame?

Sim, sou completame­nte viciado em videogame. (risos). Sou um nerd em todos os quesitos (risos). Eu gosto de videogame, gosto de série, filmes, hq’s, animes e várias coisas relacionas ao mundo geek. Coleciono miniaturas. Gosto de ‘Star Wars’ e ‘Senhor dos Anéis’. Sou um nerd mesmo (mais risos).

Já pensou em seguir outra profissão?

Queria ser técnico de futebol.

O que sua família te disse quando você contou que queria seguir carreira como rapper?

Eles apoiaram. Perdi minha mãe muito cedo, aos 9 anos. Cresci com minha avó, meu pai e meu irmão. A minha mãe, quando jovem, foi cantora e atriz. Ela fazia várias coisas na arte e todo mundo acreditou em mim. Eles apoiaram, mas ninguém me patrocinou para isso.

Você reatou o noivado com Tâmara Contro recentemen­te. Quando sai o casório?

Estou muito feliz, fase mais feliz da minha vida. Estamos muito bem juntos, tudo dando certo. A gente não marcou data ainda, mas acredito que logo mais. (risos)

Você é muito assediado nas ruas?

Eu tento não parar de fazer minhas coisas do dia a dia, ir ao mercado, shopping, eu ando na rua e faço as coisas que eu tenho que fazer pra que isso aconteça de uma forma natural, pra que eu não me assuste com o assédio das pessoas na rua. Fico muito de boa, fico feliz quando as pessoas param e pedem foto... Fico triste quando não acontece (risos). Adoro quando falam comigo.

A fama tem um preço? Qual?

Sabe que eu não sei dizer se tem um preço? Não posso ir no Hopi Hari em um dia comum porque não conseguiri­a brincar... Mas isso é um preço? Não sei! Não vejo problemas. Hoje, com a maturidade que eu tenho, não vejo problema nenhum, só consigo enxergar coisa boa na minha vida. Só tenho a agradecer a Deus e aos meus fãs. Não tenho do que reclamar.

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PEDRO DIMITROW/DIVULGAÇÃO

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