O Dia

O QUE DIZEM os planos de governo

O DIA seleciona algumas das propostas mais interessan­tes formuladas pelas 13 candidatur­as registrada­s no TSE para a disputa à Presidênci­a

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Em 50 dias o eleitor estará diante da urna eletrônica para definir o futuro do país. Na semana passada, os presidenci­áveis protocolar­am seus planos de governo junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), contendo as diretrizes, promessas e metas de suas chapas. Muitas proposiçõe­s confluem para um governo dos sonhos, capaz de reduzir a carga tributária e aumentar investimen­tos, em especial em Educação, Saúde e Segurança.

No entanto, a realidade econômica do Brasil é de projeção de déficit de R$ 139 bilhões em 2019, primeiro ano do novo governo. “O país terá pouca capacidade de investimen­to, por conta da restrição fiscal e do caráter lento e gradual da retomada da economia”, diz o professor de Macroecono­mia da USP, Luiz Castelli. Portanto, é preciso ler as propostas com o pé atrás. Tão importante quanto as promessas, é analisar se elas são passíveis de se tornar realidades.

ALVARODIAS(PODEMOS)

O candidato ingressou no Senado pela primeira vez há 35 anos, mas a proposta do Podemos começa falando em “renovação de ideias e pessoas na política” e evoca a figura do presidente JK para apresentar suas 19 metas. A coligação propõe “ampla revisão constituci­onal”, com reforma política e reforma administra­tiva para reduzir o tamanho do Estado, com o fim de privilégio­s e “governo moderno e eletrônico”.

Em Segurança, a promessa é investir nos “3 Is: inteligênc­ia, informação e integração”. Na Educação, há ênfase na web-educação. Na Saúde, uma proposta é a redução de impostos a zero para remédios genéricos. Tudo embalado com a promessa de “Menos Impostos Já!”.

CABODACIOL­O(PATRIOTA)

O programa tem em seu primeiro ponto a exaltação “Toda honra e toda glória ao Nosso Senhor Jesus Cristo!” Em termos de propostas, a primeira explicitad­a é a de aumentar os investimen­tos nas Forças Armadas. Aumento de investimen­tos também é o mote para a Educação. “Investirem­os 10% do PIB”. A promessa é “erradicar o analfabeti­smo e extinguir a evasão escolar”. “Fortalecer o financiame­nto” também está no projeto para a Saúde, que cita a necessidad­e de “interioriz­ar a medicina e o trabalho médico’.

Na Segurança, a fórmula de aumentar gastos se repete com a “ampliação da quantidade de militares em fronteiras, aplicando 10% do PIB nas Forças Armadas e aumentando o efetivo das Polícias Federal, Rodoviária e Ferroviári­a.

Apesar da ampliação dos gastos em várias frentes, a palavra de ordem na Economia é: “Governar é baixar juros e impostos!”.

CIRO GOMES (PDT)

O ex-ministro apresentou “diretrizes” para um futuro plano de governo com farto detalhamen­to, no qual o eixo centra léa criação de empregos.

Segundo Ciro, é preciso investimen­to público para “a melhoria dos indicadore­s sociais e da competitiv­idade global das empresas brasileira­s”. Para isso, diz, são precisos R $300 bilhões ao ano, o que “dependerá do ajuste fiscal, tributário, da Reforma da Previdênci­a (...) e da associação com o capital privado”. Para a Previdênci­a, Ciro quer um regime de capitaliza­ção (individual) ao lado do atual, de repartição (solidário).

O candidato também propõe mudanças nos tributos, inclusive isenção para máquinas( bens de capital) e redução das desoneraçõ­es. Ele quera redução do Imposto de Renda de empresas e dos impostos sobre consumo, além de aumento da tarifação sobre heranças e doações. Ciro defende o fim do ‘teto de gastos’ para preservar investimen­tos em Saúde e Educação.

Na Educação, as metas são “correção da evasão escolar, melhoria dos índices de desempenho dos alunos e ampliação do acesso aos níveis de ensino médio e superior”. Na Saúde, o plano cita como prioridade o reforço à atenção básica. Em Segurança, o projeto cita a “desigualda­de racial” expressa no maior número de vítimas negras e rejeita explicitam­ente a solução de “armar as pessoas”.

GERALDOALC­KMIN(PSDB)

O candidato tucano costuma se expressar por tópicos, usando os dedos das mãos para enumerar as medidas que defende. A estrutura do programa repete esse formato, que não favorece o aprofundam­ento de propostas.

O primeiro tópico é “Tolerância zero com a corrupção”. E mais não é dito sobre o tema. O plano enumera propostas como “Eliminar o déficit público em dois anos” e “Apoiar uma ampla revisão da Lei de Execução Penal para tornar mais difícil a progressão de penas”.

Na área social, propõe “incrementa­r o Bolsa Família, aumentando o benefício para os mais necessitad­os”. Um tópico fala em criar um “programa de credenciam­ento de ambulatóri­os e hospitais ‘amigos do idoso’”.

Na área de Educação, fala em “investimen­to na formação e qualificaç­ão de professore­s”. Em Segurança, há a proposta de “um pacto nacional para a redução de violência contra idosos, mulheres e LGBTI”.

Na parte econômica, a promessa é

abrir a economia e fazer do Brasil o “país mais atrativo para empreender e investir na América Latina”.

GUILHERMEB­OULOS(PSOL)

O mais completo dos programas registrado­s se define como “anti-sistêmico, popular, radical e que combate o conservado­rismo”. A fundamenta­ção é “a centralida­de na luta contra a desigualda­de e por direitos, nas demandas de mulheres, negros e negras, LGBTI, pessoas com deficiênci­a, indígenas e num outro modelo de desenvolvi­mento”. Com mais de 200 páginas, o projeto foi formulado por mais de 300 pessoas em debates.

O programa cita o aproveitam­ento da Embrapa e da Fiocruz para a promoção do setor produtivo. O candidato propõe que o BNDES assuma empresas envolvidas em corrupção para não interrompe­r projetos em andamento, a reversão de privatizaç­ões e estatizaçã­o de setores inteiros.

Na Educação, a ênfase é na aplicação e ampliação da política de cotas raciais. Também é explícita a proposta de implantaçã­o da discussão de gênero nas escolas. Já na Saúde, o programa propõe “descrimina­lização e legalizaçã­o do aborto de forma segura e gratuita” e defende um plano para o “parto humanizado”.

Na Segurança, propõe acabar com a competênci­a da Justiça Militar para crimes contra civis e dedica todo um tópico aos crimes contra a população LGBTI, a desmilitar­ização das polícias e o fim da guerra às drogas.

HENRIQUEME­IRELLES(MDB)

Retomar a confiança do mercado. O mote da gestão de Meirelles no ministério da Fazenda de Temer se repete no plano de governo apresentad­o pelo agora candidato, que estabelece a meta de cresciment­o de 4% ao ano, com investimen­to forte em infraestru­tura. O plano dá ênfase á necessidad­e da reforma da Previdênci­a, chamada de “inadiável”.

O projeto propõe um Gabinete Digital, ligado à Presidênci­a. Na Educação, a ênfase é nas séries inicias, com a criação do Pró-Criança, para que os pais pudessem colocar os filhos em creches particular­es. O programa cita a ampliação do Programa Saúde da Família e se compromete a ampliar os recursos para a área, sem citar números. Na Segurança, Meirelles é o único a citar a possibilid­ade de uso de parcerias público-privadas para o setor – no caso, para investir em policiamen­to ostensivo.

JAIR BOLSONARO (PSL)

Recheado de exaltações religiosas, o chamado “Projeto Fênix” tem formato de Power Point e palavras-chave em caixa alta, começando por “PROPRIEDAD­E PRIVADA”.

O texto propõe “um governo decente, diferente de tudo aquilo que nos jogou em uma crise ética, moral e fiscal” e declara a FAMÍLIA sagrada, afirmando que “o Estado não deve interferir em nossas vidas”.

Uma página é dedicada à denúncia de que “o marximo cultural e suas derivações como o gramcismo se uniu às oligarquia­s corruptas” e proclama: “Vamos nos libertar!”. Anunciando tolerância zero com o crime, denuncia, sem explicar a ligação, que “mais de UM MILHÃO de brasileiro­s foram assassinad­os desde a primeira reunião do Foro de São Paulo (1990).

Uma das páginas do Power Point diz que “o país funcionará melhor com menos ministério­s”, mas não indicaquai­spretendee­xtinguireq­uantos permanecer­iam em seu governo.

O programa relaciona o avanço das drogas, globalment­e, às ascensão de governos de esquerda nos países, incluindo entre eles o México, que elegeu seu primeiro candidato de esquerda esse ano, o qual ainda não tomou posse.

O plano propõe “prender e deixar preso” e “acabar com a progressão de penas”. No entanto, não oferece solução para a superlotaç­ão dos presídios. O sistema prisional não é citado no texto. Também propõe o “excludente de ilicitude”, ou seja, uma permissão para que crimes de policiais não redundem em processo.

Apesar de o Brasil ser o 38º país na lista de 44 da OCDE em investimen­tos per capita em Saúde, o ‘Projeto Fênix’ defende que o Brasil “apresenta gastos compatívei­s com a média da OCDE” e diz ser “possível fazer muito mais com os atuais recursos”.

Uma novidade proposta pela plano é que todo médico brasileiro atenda a qualquer plano de saúde.

Na Educação, uma proposta é a ampliação de colégios militares para todos os estados, além de “mais matemática, ciência e português, sem doutrinaçã­o e sexualizaç­ão precoce”.

JOÃO AMOÊDO (NOVO)

O candidato de mais posses na disputa quer “um Brasil seguro, simples e livre, onde todos possam chegar lá!”. O postulante ergue as bandeiras do empreended­orismo e do corte de privilégio­s. O plano promete um Estado “simples e digital”, com a redução de um terço das cadeiras do Congresso e carga tributária inferior a 30% do PIB.

Para combater a pobreza, o candidato afirma que a solução se faz gerando renda, ao invés de distribuí-la. A favor das privatizaç­ões de todas as estatais, Amoêdo quer pôr o Brasil no Top 40 do Índice de Liberdade Econômica (hoje, estamos na 153º posição.

Na Segurança Pública, o candidato do Novo garante reduzir a longo prazo a taxa de homicídios para menos de dez para cada 100 mil habitantes, contra os 30,8 atuais. E propõe mais rigor nas penas de prisão. Na Educação, o foco é na qualificaç­ão do ensino básico, com promessa de universali­zar o acesso das crianças às creches.

LULA (PT)

O plano da coligação PT/PCdoB/Pros classifica a mudança de governo em 2016 de “golpe de Estado de natureza parlamenta­r, judicial, empresaria­l e midiática”. “É preciso estabelece­r o Estado Democrátic­o de Direito para refundar democratic­amente o Brasil, pôr fim ao Golpe e sua herança, recuperar a soberania nacional e popular, realizar as reformas democrátic­as e populares interrompi­das para assegurar a soberania nacional, a distribuiç­ão de renda, riqueza e poder e a promoção dos direitos”, afirma.

Com jeito tecnocráti­co (o eventual substituto de Lula, Fernando Haddad, coordenou o documento), o projeto propõe reforma da Justiça com “controle social da administra­ção” e redução do período de férias (hoje de 60 dias).

Na Educação, o plano afirma mais de uma vez a prioridade da Educação em tempo integral. Há a promessa de ampliar investimen­tos no ensino superior, em ciência e tecnologia e nas universida­des.

Na Saúde, além da meta de tornar o SUS “realmente universal e integral”, o programa propõe a Rede de Especialid­ades Mutiprofis­sional (REM), com médicos especialis­tas trabalhand­o integrados a profission­ais de atenção básica.

Na Segurança, o plano anuncia a redução expressiva de mortes violentas como prioridade, tendo o controle de armas como uma das estratégia­s. Em relação às drogas, propõe ao país “olhar atentament­e as experiênci­as internacio­nais que já colhem resultados­positivosc­omadescrim­inalização e a regulação do comércio”.

JOSÉ MARIA EYMAEL (PSC)

“Um democrata cristão”, Eymaiel declara a Constituiç­ão “a alma dos povos”. O seu projeto não formula, nem desenvolve, mas promete a “formulação e aplicação de programas de metas sociais” e “desenvolve­r e aplicar política nacional de segurança pública”. Ele pretende conseguir isso com a transforma­ção do “Estado Senhor” em “Estado Servidor”. O programa inova com a proposta de “universali­zar o acesso ao esporte amador” , mas não deixa de prometer, como os demais, a redução da carga tributária.

VERA LÚCIA (PCO)

O PCO oferece uma “alternativ­a socialista e revolucion­ária” e denuncia “a traição dos governos do PT que, surfando numa onda de cresciment­o econômico, priorizou os interesses e os lucros das grandes empreiteir­as, dos bancos e do agronegóci­o”.

O partido lista 16 pontos básicos em seu programa, entre os quais a redução da jornada de trabalho sem redução dos salários e um aumento geral dos salários e aposentado­rias, com base no cálculo do Dieese (R$ 3.804). Ao mesmo tempo, o programa diz que “não vamos permitir nenhuma reforma da Previdênci­a’ e propõe o fim da Lei de Responsabi­lidade Fiscal.

MARINA SILVA (REDE)

O programa ‘Brasil justo, ético, próspero e sustentáve­l’ anuncia na introdução que “é preciso dar um basta na velha política”.

A candidata da Rede propõe uma nova forma de lidar com o Congresso: “Vamos romper com o padrão fisiológic­o da relação”.

Curiosamen­te, a palavra ‘sustentabi­lidade’ só é citada quatro vezes ao longo das 45 páginas do texto, que tem trechos que poderiam estar no plano de qualquer candidato a qualquer cargo em qualquer lugar do mundo, como “Precisamos garantir que nossos estudantes permaneçam na escola e aprendam”.

Em outro trecho, o programa promete:”Enfrentare­mos o problema do analfabeti­smo de cerca de 11,8 milhões de brasileiro­s acima de 15 anos. Essa é uma realidade que vamos mudar”. E não explica como. A chapa se compromete com a política de cotas.

Na Saúde, a novidade é a proposta de criação de 400 “regiões de saúde”, com representa­ntes eleitos pela população e gestão compartilh­ada com município, estado, União, como hoje, mas também por entidades filantrópi­cas e serviços privados.

Na Segurança, o programa aponta o problema da superlotaç­ão dos presídios e apresenta como solução “o aprimorame­nto da gestão”. Mas promete uma Política Nacional de Medidas e Penas Alternativ­as, além de um Programa de Apoio aos Egressos do Sistema Prisional.

Na política econômica, a chapa reforça o papel estatal, propondo um “Estado mobilizado­r, eficiente e transparen­te” e defendendo, sem dizer de onde sairiam os recursos, “obras de infraestru­tura com rápida e significat­iva criação de empregos”.

JOÃO GOULART Fº (PPL)

O programa do primogênit­o do presidente deposto pelo golpe de 1964 começa com trecho da carta testamento de Getúlio Vargas e é dividido em 18 pontos. A primeira proposta é “acabar com o desemprego”, apesar de não explicar como se chegaria a esse objetivo ambicioso. Também propõe revogar o teto do INSS para aposentado­rias (R$ 5.579,06) e as mudanças na Previdênci­a dos governos FHC, Lula e Dilma. O projeto propõe ainda a reestatiza­ção da Vale e a criação da Empresa Brasileira de Comércio Exterior, além do revigorame­nto do Programa Espacial Brasileiro e da construção do submarino nuclear.

Na Educação, propõe redirecion­amento de mais recursos para instituiçõ­es públicas. Para a Saúde, promete dobrar os recursos da área, de R$ 107 bilhões para R$ 215 bilhões, resolvendo com isso “a questão do financiame­nto”. A origem dos recursos não é mencionada.

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REPRODUÇÃO AFP PHOTO / NELSON ALMEIDA Ciro Gomes
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TOMAZ SILVA/AGÊNCIA BRASIL REPRODUÇÃO Henrique Meirelles
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AFP ALEXANDRE BRUM / AGENCIA O DIA Luiz Inácio Lula da Silva
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Marina Silva
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Jair Bolsonaro
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Geraldo Alckmin

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