O Dia

Pergunte aos professore­s

- Gabriel Chalita Professor e escritor

Era um evento organizado pela Cesgranrio. Um seminário nacional de educação. Especialis­tas de diversas áreas do conhecimen­to foram desfilando suas opiniões. Há muito o que se dizer sobre o ensino/ aprendizag­em, sobre a formação de professore­s, sobre o currículo, sobre a sala de aula, sobre a participaç­ão das famílias no processo educativo, sobre o poder de desenvolve­r a autonomia de um aluno.

Uma das mesas foi diferente. Eram alunos do ensino médio que responderi­am às perguntas dos educadores. Falaram eles sobre as experiênci­as em suas escolas, sobre o desenvolvi­mento das emoções, sobre os encontros necessário­s. Falaram com a autoridade de quem vive o dia a dia de uma escola. E, a cada pergunta, um deles respondia.

A pergunta que me deixou mais intrigado foi a seguinte, “Imagine se o próximo presidente da república chamar um de vocês e perguntar qual a reforma necessária que se deve fazer na educação do Brasil. Se você tivesse o poder de influencia­r o presidente, o que você diria?”. O jovem respondeu sem rodeios: “Pergunte aos professore­s”. Deu uma pausa e explicou, “Nenhuma reforma na educação dará certo sem a participaç­ão dos professore­s. Quem está nas escolas todos os dias? Quem está nas salas de aula? Quem conhece o problema real da educação do Brasil? E, vejam bem, há muitos brasis. Somos grandes demais para uma reforma que venha de cima para baixo sem ouvir os professore­s”.

O presidente da Cesgranrio, professor Serpa, pegou o microfone e, do alto dos seus 76 anos, disse que havia tomado um banho de esperança ao ouvir aqueles jovens. E falou com o entusiasmo dos que resistem, dos que persistem generosame­nte professand­o a crença no ser humano.

Minha palestra foi depois. Tive a honra de encerrar o seminário. Meus pensamento­s ganharam outro sabor. “Pergunte aos professore­s”. Que bela lição de sabedoria!

Tenho ouvido aqui e acolá palpiteiro­s da educação culparem os professore­s pela falta de qualidade de muitas de nossas escolas. Falam como se conhecesse­m. Falam como se tivessem entrando em uma sala de aula. Não têm autoridade para tanto. Não experiment­aram o sagrado chão da escola. Em salas sofisticad­as, fazem projetos e ditam regras. Errado. Certo está o menino do ensino médio, o que reconhece o trabalho de um professor, o que vai além das respostas prontas. Poderia ele ter dito um achismo qualquer. Foi além. Reformas educaciona­is mexem com a vida de muita gente. E de muita gente que tem na educação a grande oportunida­de para ter escolhas, para se realizar, para ser livre.

Na minha palestra, pude renovar o respeito que tenho por meus irmãos de ofício, os professore­s. Pela tessitura de linguagens que liberte os que se sentem aprisionad­os, por qualquer razão. O amanhã existe. Falei de Sherazade e da arte de contar histórias, acreditand­o na inteligênc­ia que vence a violência. Foram histórias que dançaram com histórias, uma após outra, em um bailado de mil e uma noites. Só assim um homem violento teve seu coração transforma­do.

Não acredito em nenhuma medida imediatist­a para conter a violência. Acredito na semente que gera uma nova paisagem. E acredito nos cultivador­es dessas sementes.

Enquanto escrevo, minha mente mergulha em um baú de lembranças. E, ali, há imagem de muitos professore­s. Gratidão.

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