O Dia

PM atira em costureira e pede desculpas ao marido

Vítima e marido estavam em carro que constava como roubado no sistema da polícia. Ontem, eles iriam regulariza­r situação do veículo

- RAFAEL NASCIMENTO rafael.nascimento@odia.com.br

Vânia Lopes, de 37 anos, foi baleada por policiais em Caxias, na noite de segunda-feira, depois que o carro dirigido por seu marido, Carlos Alberto Lopes, parou em uma blitz. A bala atingiu o pescoço. Segundo Lopes, depois de atirar, o soldado percebeu o engano e pediu perdão. “Também sou pai”, disse ele.

A costureira Vânia Silva Tibúrcio Lopes, de 36 anos, baleada por um policial militar na noite de segunda-feira, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, teve morte encefálica confirmada ontem pela equipe do Programa Estadual de Transplant­es. Atingida no pescoço depois que o carro onde estava com o marido foi abordado pela PM, ela estava internada em estado grave no Hospital Municipal Dr. Moacyr Rodrigues do Carmo.

A costureira e o marido, Carlos Alberto Lopes, tinham saído de casa, em Belford Roxo, e seguiam para Duque de Caxias para passar a noite na casa da sogra da vítima. O objetivo era ficar mais perto do posto do Detran, onde o casal iria, na manhã de ontem, regulariza­r a situação do veículo.

O carro havia sido roubado em abril e recuperado logo depois, mas não foi dada a baixa no registro de furto no sistema da polícia.

Segundo Carlos Alberto Lopes, uma viatura da PM estava seguindo o carro desde uma rua próxima à casa do casal e atirou sem realizar abordagem. “Em momento nenhum os policiais pediram para parar. Não tinha blitz. Não existe essa história de tentar fugir do local. Uma outra viatura já chegou me fechando, apontando a arma. Eu coloquei a mão na cabeça e pedi calma. O carro deu um tranco porque o meu pé saiu da embreagem quando atiraram pela primeira vez. Não tentei fugir porque não recebi ordem de parada”, disse.

O marido da costureira também contou que o policial que efetuou o disparo chegou até a pedir desculpas. “Ele falava: ‘amigo, me perdoa, me perdoa, eu sou pai, tenho filho, eu não quero mais ficar na rua, eu não sou mal, foi uma fatalidade’. Eu respondi: ‘tudo bem, mas o seu filho vai estar com a mãe, e os meus?”, desabafou.

Em nota, a Polícia Militar informou que os policiais “estavam capacitado­s” e que foram induzidos a “achar que se tratava de uma tentativa de fuga” quando o carro arrancou após o marido da vítima desembarca­r com a veículo engrenado.

A ação do policial militar em atirar em caso de fuga contraria norma da própria corporação, de novembro de 2015, que proíbe disparos para evitar fugas de suspeitos. Indagada a respeito, a PM afirmou que somente as investigaç­ões poderão “elucidar como exatamente se deram os fatos”.

Para o especialis­ta em segurança, Vinícius Cavalcante, a ação é compreensí­vel. “A norma da corporação é para evitar que um refém seja alvejado. Mas não era o caso, pois os agentes checaram que o carro já tinha sido roubado. Além disso, o dia de ontem estava tenso, com informe de ataques de criminosos após a operação da Intervençã­o. Os policiais estavam tensos. Embora os protocolos rezem que eles não devam fazer o disparo, na conjuntura vigente, não censuraria a conduta do policial”, esclareceu.

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SEVERINO SILVA O marido Carlos Alberto Lopes disse que não tentou fugir do local
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ARQUIVO PESSOAL Vânia, de 36 anos, era costureira

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