Soldados do Exército são enterrados. No Alemão, denúncias de abusos
Imagem mostra multidão entrando na mata. CML diz que não há confirmação de mais mortos
Familiares e amigos acompanharam emocionados, no cemitério de Japeri, o sepultamento do cabo Fabiano Santos e do soldado João Viktor da Silva. Ambos foram assassinados em uma operação da Intervenção Federal no Alemão, na segunda-feira. Além deles, 11 suspeitos morreram. Na comunidade, moradores reclamam do desrespeito dos militares.
No final da tarde de ontem, moradores do Complexo da Penha subiam enfileirados a Serra da Misericórdia, região alta do conjunto de favelas que ontem registrou o segundo dia de operações do Exército. Eles procuravam por corpos de parentes. A ação, fotografada e filmada, foi divulgada nas redes sociais. Ativistas da comunidade, procurados pelo DIA, confirmaram a ação.
Apesar dos relatos, o porta-voz do Comando Militar do Leste, Coronel Carlos Cinelli, disse que “não há confirmação oficial de corpos encontrados na área em que as operações estão sendo conduzidas” e que “o acesso de pessoas a qualquer parte da área de operações é livre, exceto se houver riscos à integridade física da população ou das forças de segurança”.
O CML mantém com a contagem de cinco supostos criminosos mortos desde segunda-feira, além dos dois militares que foram enterrados ontem.
SUPOSTO RESGATE
Segundo relatos, mais cedo, dois corpos teriam sido retirados da mata na Chatuba, na Vila Cruzeiro, favela do Complexo da Penha, que é vizinho ao do Alemão, segundo moradores. Vídeos feitos mostram corpos sendo carregados em dois lençóis. Quem os leva, corre, pois tiros são ouvidos. Agentes da sala de polícia do Hospital Getúlio Vargas confirmaram a chegada dos corpos. Somente os primeiros nomes foram divulgados: Vanderson e Vinícius, ambos maiores de idade. Eles tinham marcas de tiros no peito e nas pernas.
O promotor Jorge Melgaço, do Ministério Público Militar, disse que irá averiguar as informações. “Ainda não recebi nenhum relato oficial a respeito. É necessário ter cautela pois o tráfico também usa boatos para jogar a opinião pública contra a tropa”, disse.
Ontem, a Defensoria Pública do Estado do Rio disse que vai novamente ouvir os moradores sobre as operações e o ouvidorgeral da Defensoria, Pedro Strozenberg, afirmou que acompanha com preocupação os relatos.
O Coletivo Papo Reto e a ONG Redes da Maré denunciaram truculência por parte dos agentes. Além de invasões a residências, crianças teriam sido revistadas. O CML disse que todas as denúncias devem ser formalizadas para averiguação.