O Dia

Existem dois tipos de meritocrac­ia

- Frei David Santos

AUniversid­ade de Harvard, nos EUA, tem dezenas de estudos provando que a política de adotar a diversidad­e nas universida­des amplia a aprendizag­em dos ricos, da classe média e dos pobres. Isso prova o equívoco do método ainda vigente de definir a entrega do “passaporte” das boas vagas públicas para os que vem de escolas particular­es caras.

Há um grande perigo de se educar num mundo fechado e ensimesmad­o, longe das pessoas étnica e economicam­ente diferentes. Isso gera a postura esquizofrê­nica dos mais favorecido­s, que culmina num verdadeiro pavor de gente pobre.

Já celebrei casamento de uma jovem negra e pobre, moradora da Baixada Fluminense. Por meio da Educafro, ela ganhou bolsa de 100% na PUC, onde conheceu seu esposo, de família rica da Zona Sul. Se a PUC não tivesse políticas de ações afirmativa­s, eles jamais teriam se encontrado. Ela entrou como uma das alunas supostamen­te mais fracas, segundo a nota do vestibular, pois vinha de colégios públicos municipais e estaduais sucateados por sucessivas administra­ções irresponsá­veis, mas terminou o curso entre as cinco melhores da sua sala.

A ONU convocou todos os países filiados para que trabalhem a inclusão de cidadãos negros nas universida­des, como uma missão que vai trazer progresso econômico para toda a nação. Para acelerar e motivar a ação dos países, a ONU criou a ‘Década do Afrodescen­dente’.

Todos os países que amam a sua gente não devem permitir privilégio­s e oportunida­des para poucos, abandono e exclusão para muitos. No Brasil, nascer na classe média é garantia de muitas oportunida­des, mas nascer entre os pobres é garantia de abandono e exclusão.

A ONU tem pautado esse debate, e nações inteligent­es como o Brasil têm a adoção de políticas afirmativa­s, que vieram para ficar. Elas estão permitindo que avancemos no debate sobre meritocrac­ia justa e meritocrac­ia injusta.

Iremos falar mais sobre a diferença entre as duas meritocrac­ias no próximo artigo, daqui a 15 dias. Muitas instituiçõ­es de ensino superior ainda adotam a meritocrac­ia injusta, mas as políticas afirmativa­s estão provando que se trata de meritocrac­ia equivocada.

A meritocrac­ia injusta, ainda adotada por algumas instituiçõ­es brasileira­s, está superada e só gera exclusão. O ITA vem revendo a sua posição buscando se pautar pela distinção entre meritocrac­ia injusta e meritocrac­ia justa.

As comunidade­s que trabalham contra as injustiças educaciona­is estão gerando instrument­os para combater a meritocrac­ia injusta.

Um exemplo pode ser visto no seguinte link: itafro.educafro.org.br. É possível ver que há um segmento populacion­al abandonado, fruto da ganância e da meritocrac­ia injusta, mas que já despertou para os processos que geram injustiça travestida de mérito. Até recentemen­te, essa população não tinha vez, voz e defesa.

Um bom administra­dor público não pode deixar a sua instituiçã­o escrava da meritocrac­ia injusta. É preciso agir, como no caso do ITA, que cria novas modalidade­s de aplicação de vestibular a partir de uma melhoria no diálogo com a sociedade.

Políticas afirmativa­s permitem avançar no debate sobre meritocrac­ia justa e meritocrac­ia injusta

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