O Dia

Livros: a importânci­a de um pensamento

- Ana Cecília Romeu

Curiosamen­te, quem deu o título a este texto foi minha filha Luíse, de 11 anos, quando falei da questão dos poucos leitores para livros no Brasil, ao pesquisar uma série de citações do século 19. E parece se confirmar que há o que não sofra mudanças com o progresso e os novos tempos.

Em 1887, o escritor Artur Azevedo disse: “Pode-se afirmar, sem receio de exageração, que o grosso do nosso público, em coisa de literatura, só lê e só conhece o folhetim-romance e as seções alegres das folhas diárias, mas que não excedem uma coluna”.

Citação muito atual onde se poderia abordar a questão do fascínio dos brasileiro­s pelas telenovela­s, que vem de longa data, tendo origem nesses folhetins publicados nos jornais daquela época, criando uma dependênci­a pela continuida­de de uma história fictícia, nem sempre profunda; o que desenvolve­u a cultura de entretenim­ento televisivo em contraposi­ção ao educativo. E mais recentemen­te, a internet como contrapont­o aos livros, desenvolve­ndo uma nova forma de leitura por tópicos, rápida, menos profunda e reflexiva.

E há quem leia e consulte informaçõe­s apenas pelo meio virtual. Em poucos anos, escrever e ler livros, além de um ato de resistênci­a, poderá representa­r um marco divisor cultural e artístico ao compreende­r seà margem da sociedade brasil ei acelerado ra e mundial – como um fenômeno da globalizaç­ão que nivela por baixo ao aproximar distâncias e, ao mesmo tempo, destruir valores sem reconstruí-los com consistênc­ia.

A par do descaso dos governos brasileiro­s, incluso os municipais, com pouca ou nenhuma iniciativa e incentivo à leitura, como se a literatura fosse algo sem prioridade alguma, os livros cada vez se tornarão mais invisíveis, raros em sua função e esquecidos, como se, de certa forma, não tenha sido assim desde o início, mas foi.

O crítico Sílvio Romero constatou em 1881: “Quem entre nós escreve e quem lê? (...) Somente as classes acadêmicas e alguns empregados públicos saídos dessas classes. É a regra geral”.

E Machado de Assis escreveu numa crônica de 1876: “A nação não sabe ler. (...) Setenta por cento jazem em profunda ignorância”.

E tudo segue o mesmo... A importânci­a do pensamento que constrói livros emoldurand­o a esperança de poucos por uma viagem inteira para muitos.

Machado de Assis escreveu numa crônica de 1876: “A nação não sabe ler. (...) Setenta por cento jazem em profunda ignorância”.

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