O Dia

Haddad: desfecho para Lula sai em duas semanas

- CÁSSIO BRUNO E FRANCISCO ALVES FILHO cassio.gomes@odia.com.br | chico.alves@odia.com.br

Essa é a expectativ­a do candidato a vice-presidente na chapa de Lula. Em entrevista exclusiva ao DIA, ele diz que o PT aposta que a candidatur­a do ex-presidente será mantida. Mas confia que, se precisar substituíl­o, será reconhecid­o pelo eleitor.

FERNANDO HADDAD tem um grande desafio. Vice na chapa do PT à Presidênci­a, ele será o substituto caso se confirme a inelegibil­idade de Lula, preso condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro. Terá pouco tempo para ficar conhecido no Brasil. No Rio, por exemplo, seu nome não soa familiar. Há quem o chame de “Andrade”. “No começo da campanha, em São Paulo, teve um que me chamou de Adauto”, lembra, aos risos. Ontem, Haddad deu uma entrevista exclusiva ao DIA:

N ODIA: O senhor está preparado para substituir o ex-presidente Lula?

L FERNANDO HADDAD: Estamos com uma grande expectativ­a depois do comunicado da ONU (Organizaçã­o das Nações Unidas, que recomendou que o Brasil garanta os direitos políticos de Lula) em função da jurisprudê­ncia firmada no Superior Tribunal Federal (STF) de que tratado internacio­nal validado pelo Congresso tem status jurídico superior ao das leis ordinárias. Ou seja: o tratado internacio­nal aprovado só perde para a Constituiç­ão. Essa é a tendência majoritári­a do Supremo. Mesmo que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) venha a negar o registro (de candidatur­a) do Lula, vamos arguir essa jurisprudê­ncia no STF.

N O PT trabalha com qual prazo para isso se resolver?

L Acredito que, na semana que vem, teremos uma decisão do TSE. E, na semana seguinte, do STF. Então, a expectativ­a é de duas semanas.

N Caso a candidatur­a de Lula não vá à frente, o senhor será o candidato. Mas é desconheci­do entre os eleitores do ex-presidente.

L Estou trabalhand­o para tornar o Plano de Governo do Lula conhecido. O que ele disse, em São Bernardo do Campo, é que ele queria se transforma­r numa ideia, num projeto. E que não poderiam aprisionar uma pessoa que representa­sse um projeto defendido por milhões de pessoas. Somos milhões de Lulas. A intenção de voto nele cresceu.

Como transferir os votos? N

L Não há preocupaçã­o em transferir votos. Em nenhum momento o PT fez um cálculo. Pode ser considerad­a uma estratégia arriscada? Pode. Mas é a única política e moralmente aceitável.

N Com a prisão, o Lula tem apostado na dúvida sobre a candidatur­a. Não empobrece o debate político?

L O problema não foi o PT que criou. Uma condenação, sem provas, foi o PT que criou? Eu li a sentença e desafio qualquer advogado a me apontar qual o parágrafo onde consta a prova.

N Mas há risco de Lula não ser candidato.

L Fomos nós quem criamos a situação? Não fomos! Aprovaram o impeachmen­t (da ex-presidente Dilma Rousseff ) sem crime de responsabi­lidade. Agora, há uma condenação sem provas. Imaginaram que fossem mudar a opinião das pessoas sobre o destino do Brasil. Não se alterou. As pessoas continuam querendo o Brasil que o PT construiu durante 12 anos, cujo projeto foi interrompi­do por uma ação violenta no Congresso Nacional.

N O PT lançou a candidatur­a de Márcia Tiburi ao governo do Rio. Ela não ultrapasso­u 3% nas pesquisas. O PT errou na escolha?

L Ela tem até muito. A Márcia é professora. Nunca concorreu. O horário eleitoral vai dizer os atributos dela, que é apoiada pelo PT, pelo Lula, por artistas, por acadêmicos, por filósofos, pelo povo. Mostrará quem ela é.

N O senhor também se põe na mesma situação?

L Em 2012, na primeira pesquisa, eu tinha 3%. Por quê? Eu era um número e uma cartela. Quando você é um número e uma cartela, você não é nada. Agora, (no programa eleitoral) falaram que eu era ministro da Educação, ministro do Lula. Ganhei do José Serra (PSDB), que era considerad­o imbatível.

N O tempo na TV do PSDB de Geraldo Alckmin é o maior de todos. Dificultar­á o senhor a decolar?

L O problema do PSDB é outro. O plano econômico do PSDB é a continuida­de do governo Temer.

N Segundo as pesquisas, Marina Silva (REDE) e Ciro Gomes (PDT) são os que mais herdam eleitores do ex-presidente Lula.

L Na pesquisa, o eleitor vê uma cartela. Não vê o meu histórico. Respeito pesquisa. Mas precisamos de história, que começa dia 31 (na próxima sexta-feira, início da propaganda na TV e no rádio). A roda começará a mexer.

N Qual seria a prioridade do governo petista?

L Temos que sair da armadilha econômica que estamos, tomando duas providênci­as: trabalho e educação. Esse binômio representa oportunida­de na cabeça das pessoas e, sobretudo na do Lula. Ele entende que, dando oportunida­de às pessoas, o Brasil se desenvolve naturalmen­te.

N Com quais medidas?

L Primeiro, reduzir o juro e o imposto de renda de quem ganha até cinco salários mínimos. Aumentarem­os o poder de compra das famílias. Segundo, criaremos uma fórmula na qual quanto mais juro o banqueiro cobrar mais imposto ele vai pagar. Assim, diminuirem­os as taxas de juro. A população fará crediário e abrirá o seu negócio. Terceiro, acabar com o teto de gastos públicos.

N Nos governos do PT, os bancos tiveram ganhos acentuados. Por que o eleitor deve acreditar?

L Desenvolve­mos tecnologia nova. Por exemplo: a tributação progressiv­a dos bancos surgiu no debate sobre a crise. Não tínhamos essa ideia antes. O banco que cobra muito juro vai pagar mais imposto. Vai estimular a concorrênc­ia.

N Como será o apoio do governo federal na questão da Segurança Pública?

L Os militares têm tarefa muito importante no país. Mas não é a Segurança Pública. Eles próprios estão bastante incomodado­s sobre o que está acontecend­o no Rio. Foram pegos de surpresa. O governo Temer estava em crise e, querendo desviar a atenção da enorme impopulari­dade, usou o prestígio das Forças Armadas. Deu no que deu. Vamos federaliza­r alguns crimes.

N Como assim?

L Exemplo: tráfico de drogas. O PCC não dá mais para ser combatido por um governador. O PCC foi criado em São Paulo debaixo do nariz do PSDB e exportado para o país. Os governador­es estão de mãos amarradas. Vamos assumir essa função no plano federal com um contingent­e novo da Polícia Federal e preparado para esse tipo de enfrentame­nto.

N O PT ficou ao lado de Sérgio Cabral, preso na Lava Jato, em todo mandato.

L Eu, pessoalmen­te, estive várias vezes no Rio, como ministro da Educação, fiquei surpreso com o grau de degradação do ambiente político do Rio.

N Mas o PT também ficou marcado pela Lava Jato. Qual é a autocrític­a que o partido faz em relação aos mecanismos de controle nas estatais?

L No caso das estatais, acho que a governança não foi tão alterada como deveria. Precisamos criar os mesmos mecanismos contra corrupção como nos ministério­s. Tivemos pouquíssim­os problemas na administra­ção direta. Mesmo com a Lava Jato.

N A Justiça Eleitoral o acusa de ter recebido R$ 1,9 milhão da UTC via caixa dois na campanha para prefeito de São Paulo.

L Acho incrível (a acusação) voltar a 30, 50 dias da eleição. Um empresário corrupto (Ricardo Pessoa, presidente da empreiteir­a) foi prejudicad­o pela minha administra­ção aos 44 dias do meu governo. O meu secretário indicou que a obra da UTC era superfatur­ada. Eu cancelei a obra. E um mês depois eu ganho um presente (delação) dele por ter cancelado a obra? Detalhe: ele disse que não prestou serviço para a minha campanha. Ele fez (a delação) para me retaliar pela obra que ele perdeu. Não tenha dúvidas.

“Não há preocupaçã­o em transferir votos. Em nenhum momento o PT fez um cálculo”

“Ele (Ricardo Pessoa, da UTC) fez a delação para me retaliar pela obra que perdeu”

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MARCIO MERCANTE
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MARCIO MERCANTE / AGENCIA O DIA
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