MORTES E PÂNICO NO ÔNIBUS
Assalto a um coletivo na Via Dutra termina com dois passageiros mortos e um ferido. Uma das vítimas tinha ido levar a filha de 3 anos para conhecer a praia
Repositor de gôndolas em um supermercado na Penha, Ademir Filipe Nascimento de Souza, 22 anos, saiu cedo de casa, anteontem, no bairro Cerâmica, em Nova Iguaçu. Ele e a mulher levaram a filha de 3 anos para conhecer o mar na praia da Barra da Tijuca. Na volta, à noite, um assalto ao ônibus em que estavam terminou com tiros na Via Dutra, altura de São João de Meriti. Dois passageiros morreram, entre eles Ademir, ao tentar salvar a menina e a esposa. Outro ficou ferido. Um triste desfecho em meio a 42 roubos em coletivos por dia no Estado do Rio, entre janeiro e julho de 2018 — um a cada meia hora.
Um vídeo obtido pelo DIA mostra o momento em que dois criminosos entraram pela porta da frente no ônibus da linha 425T (Barra-Queimados), da UniRio Transportes, às 20h15. Um deles, desarmado, foi para os fundos e anunciou o assalto. O vigia Vanderlei de Oliveira Paulino, 45, reagiu e lutou com o bandido. O outro assaltante, ao lado do motorista, começou a atirar. Vanderlei foi baleado no peito e Ademir, no tórax, e não resistiram. Jonathan de Jesus Santos, 21, foi atingido na perna esquerda e recebeu alta ontem do Hospital Geral de Nova Iguaçu. Os ladrões fugiram.
A filha do casal viu tudo e está desesperada, mas não sabe que o pai morreu. “Meu marido foi atingido três vezes. Estou em choque, anestesiada. Ela fica me falando: ‘Mamãe, salva o papai, tira ele do hospital’ ”, disse a mulher de Ademir, de 20 anos. Ele tinha 16 anos e ela 14 quando se conheceram. Foi o primeiro amor de ambos.
“O meu irmão e minha cunhada tiraram os celulares e iriam entregar. Começou a dar muito tiro quando o rapaz reagiu. O meu irmão,
Vídeo obtido pelo DIA mostra o momento do assalto e um dos criminosos atirando
Estou em choque, anestesiada. Ela fica me falando: ‘Mamãe, salva o papai, tira ele do hospital’
X., esposa de Ademir
Ele já desarmou bandidos umas três vezes. Na última, falei para não fazer mais isso. Ele disse que era por instinto Gilgoberto Roque, primo de Vanderlei
então, se jogou em cima da minha sobrinha e minha cunhada para tentar salvar as duas. Aí, ele falou: ‘Me acertaram um tiro’”, contou Aline do Nascimento Cardoso, irmã do repositor. “Ele estava de folga e foi realizar o sonho da menina de conhecer a praia”, lamentou.
Vanderlei trabalhava há mais de 20 anos na Caixa Econômica, ultimamente na agência da Avenida das Américas, na Barra, e também morava em Cerâmica. Ele já tinha reagido a assaltos outras três vezes e a filha chegou até a implorar para que não se arriscasse. “Ele já desarmou bandidos umas três vezes. Na última, falei para não fazer mais isso e ele respondeu que era por instinto, mas que não faria mais”, disse Gilgoberto Roque, 39, primo da vítima, que deixou uma filha de 18 anos. “Eu dizia: ‘Pai, pelo amor de Deus, para de reagir a assalto’”, lembrou a filha, sem se identificar.
Ademir foi enterrado ontem no Cemitério de Nova Iguaçu e Vanderlei será sepultado hoje, às 10h30, no Jardim da Saudade de Edson Passos. “Fica uma revolta. Não podemos fazer mais nada por ele, mas queremos que a justiça seja feita e os culpados paguem”, desabafou uma prima no enterro. A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense investiga o caso.