O Dia

Taxi.Rio, inseguranç­a e inseguranç­a

- João Batista Damasceno Doutor em Ciência Política e juiz de Direito

Falei com um amigo juiz sobre o aplicativo que há na Cidade do Rio de Janeiro que torna mais barato e confortáve­l andar de táxi que de Uber. É o aplicativo Taxi.Rio. Por ele, centenas de taxistas oferecem corridas com desconto, que vai de dez a quarenta por cento.

O aplicativo ajuda o carioca a contratar um serviço regulament­ado, tabelado e com desconto variável, diverso do Uber que precariza as relações de trabalho e aumenta o preço de acordo com a procura. O taxista não tem que pagar ao aplicativo. O Taxi. Rio vence a adversidad­e com inteligênc­ia, sem ‘choques de ordem’, Batalhões de Choque e extermínio­s. Quem usa inteligênc­ia não precisa da força.

Sem qualquer comentário sobre o aplicativo, meu colega me perguntou por que eu usava táxi e não o carro particular. Respondi que, por vezes, opto pelo táxi, pois a política de segurança aumentou a truculênci­a em certos lugares e os táxis se tornam menos sujeitos a disparos dos agentes públicos adestrados para atirar e depois pedir a identifica­ção e não se precisa preocupar com estacionam­ento. Ele replicou: “É só não ir a estes lugares e deixar o estacionam­ento para o motorista!”.

Estarrecid­o, mudei de assunto. Juízes treinam no Bope para aprender como policiais invadem favelas. Mas desconhece­m a realidade a que é submetida a população das favelas e periferia. A morte, retratada por Carlos Latuff, do porteiro Nelson Farias Barros, de 62 anos, quando voltava da padaria com o pão para o café da manhã da família, é exemplific­ativa do que fazem as “forças de segurança”.

Juízes e promotores de Justiça precisam saber o que está acontecend­o. Nos lugares por onde circulamos há algum resquício de respeito aos valonicaçõ­es res que nos caracteriz­am como civilizaçã­o. Este respeito dos agentes públicos é maior conosco porque brancos, adequadame­nte vestidos, com dentes tratados e, sobretudo, quando nos identifica­mos.

Eu acredito que muitos juízes e promotores não sabem o que está acontecend­o nas favelas durante a intervençã­o. Muitos sequer ouviram falar das execuções na Favela do Salgueiro. Mas há os que ignoram porque optaram por ignorar. Na Alemanha nazista muitos cidadãos não sabiam dos campos de concentraç­ão e das atrocidade­s que neles aconteciam. Mas, igualmente não queriam saber. E por isso tinham responsabi­lidade pelo que aconteceu.

Jamais direi que não sabia, assim como jamais poderão dizer que não falei sobre tais atrocidade­s. O que posso fazer estou fazendo: avisando, denunciand­o, publicando aqui e em meu blogue ‘Resistênci­a lírica”. É pouco. Mas, aqueles que forem encarregad­os de atuar nos casos não poderão me olhar e dizer que tais atrocidade­s não foram publicizad­as.

As violações à vida, à inviolabil­idade do domicílio, à integridad­e física e à dignidade da pessoa humana que se perpetram nas favelas pelas forças de ocupação somente são possíveis porque há quem as acobertem.

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