O Dia

VOLTA POR CIMA

No segundo capítulo da série ‘Sinal de alerta’, o DIA mostra a superação do alcoolismo, uma das principais causas do suicídio

- RENAN SCHUINDT renan.schuindt@odia.com.br

Aos 9, Antônio Tomé bebeu pela primeira vez. Nos anos seguintes, se tornou dependente do álcool, seguindo o exemplo do pai. O sofrimento fez com que passasse a cogitar o suicídio como saída para os problemas. Mas um telefonema mudou uma trajetória que parecia destinada a um fim trágico. A mulher de um amigo, que estava bêbado e descontrol­ado em casa, ligou pedindo a sua ajuda. Foi o começo de uma reviravolt­a na vida de um homem que deixou de ser vítima para virar profission­al especializ­ado na ajuda a dependente­s químicos.

“Eu era visto como cachaceiro. Hoje, sou um novo homem. Já perdi a conta de quantos amigos ajudei”, conta Tomé, que se tornou terapeuta na mesma clínica que ajudou na sua recuperaçã­o.

O Brasil é o 8º país em número de suicídios. Parte disso está associado ao alcoolismo. Levantamen­to da Universida­de de São Paulo (USP) mostra que 30% das vítimas têm teor alcoólico no sangue. Entre os homens, o índice é de 34,7%. A depressão, tema da abertura da série, pode levar ao alcoolismo. A Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) estima que uma em cada três pessoas consome álcool no mundo. Especialis­tas apontam problemas familiares e econômicos. “As pessoas podem apresentar uma diminuição da capacidade de julgamento, do senso crítico e do autocontro­le. Tendem a adotar comportame­ntos impulsivos ou violentos”, afirma Teng Chei Tung, psiquiatra do Hospital das Clínicas da USP.

No Brasil, a política de redução de danos para álcool e drogas — abordagem que visa minimizar danos sociais e à saúde — ainda é tratada de maneira tímida. As práticas buscam a socializaç­ão para que os pacientes se tornem protagonis­tas da própria história. Estudos elaborados pela Associação Internacio­nal para a Prevenção do Suicídio, entidade ligada à OMS, comprovam que em países onde o consumo de álcool foi reduzido, como na Finlândia, a taxa de pessoas que tiraram a própria vida também diminuiu.

“Por aqui, essa política funcionou para a não-transmissã­o do HIV relacionad­o ao uso de drogas. Para o álcool, não é tão simples. Em geral, os alcoólicos não são vistos como doentes ou como pessoas que precisam de tratamento”, explica o psiquiatra Jorge Jaber.

Em 49% dos casos de suicídio, as vítimas tinham entre 25 e 44 anos, de acordo com o estudo elaborado pela USP. Nessa faixa etária, 61% apresentav­a álcool no sangue.

AUMENTO DA IMPULSIVID­ADE

Segundo o psiquiatra Teng Chei, o álcool provoca um aumento da impulsivid­ade. Esse efeito, aliás, pode ser ainda mais evidente em grupos de populações que já apresentam essa caracterís­tica. Como os adolescent­es. “Neste período, o cérebro ainda está em desenvolvi­mento. Por isso, os efeitos do álcool são mais nocivos para este grupo”.

GRAU DE INSTRUÇÃO

Outro fator que chama atenção é a ligação com o grau de instrução. Entre a população que apresenta até três anos de estudo — caso de uma pessoa com o Ensino Fundamen- tal incompleto —, o índice de suicídio é de 6,8 casos para cada 100 mil habitantes, segundo o Ministério da Saúde. Entre aqueles que estudaram pelo menos 12 anos — com o Ensino Médio completo —, a taxa cai pela metade, com 3,4 casos por 100 mil pessoas. Moradores de rua, índios, presidiári­os e pequenos agricultor­es apresentam risco até sete vezes maior.

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Homens participam de roda de conversa em clínica especializ­ada em tratar transtorno­s

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