O Dia

Chegou a primavera!

- Luis Pimentel

FJornalist­a

oi durante uma das famosas reuniões de amigos no Buteco do Jisus, em Botafogo. Lá para as tantas, o papo desandou para o lado das quatro estações. Pedro Garganta, um dos mais falantes e quase nunca convincent­es, abriu os trabalhos: “A mim agrada, por demais (sacaram o estilo?!), o clima outonal. O frescor das folhas, o sol ameno, o dias são mais radiantes”.

Rocha, conhecido nas mesas e arredores como “o Cacique da Bambina”, completou: “A cerveja fica mais gelada. As mulheres são mais cheirosas e mais macias”.

Foi solicitada a opinião de uma representa­nte do grupo feminino: “Prefiro o verão”, disse Nina, uma morena que encostou-se à mesa um dia para pedir fósforos e nunca mais abandonou a turma. “Aumenta o calor na formosinha, né, preta?”, bombardeou o intrépido Yonzinho Cantareira, que todas as noites atravessav­a a Baía de Guanabara para beber em Botafogo.

Gargalhada­s. Beijinho de reencontro nos copos. Mordidinha­s na moela... Pedro Garganta entrou de sola: “Também encontro vantagens na estação do frio. O inverno tenciona os músculos e enrijece os doces lábios”.

Nina engasgou com uma rodela de salaminho. Yonzinho partiu em socorro: “Mastiga devagar, boneca. O salame é um tira-gosto roliço e traiçoeiro”.

Era assim que a banda tocava. Havia poesia em tudo.

Rocha da Bambina interrompe­u a conversa, levantando-se de braços abertos: “Oi! Chega até aqui!”, gritou, na direção de uma linda mulher que se aproximava. “Vem cá, prima. Vem conhecer os meus amigos!”. “Prazer, pessoal”, falou a moça.

O primo puxou a cadeira para a visitante: “Esta aqui é minha prima Vera”.

Primavera! Era a estação que estava faltando. Garganta deu a volta em torno da mesa e se aproximou, derretido: “Conheço você, não sei de onde”.

“Conhece Juiz de Fora? Sou de lá”, disse a moça. “Claro”, respondeu Pedro, os braços de polvo varrendo copos e os ombros da moça. “Vou a Juiz de Fora pelo menos uma vez por mês. Fico no Plaza. Você mora onde?” “Moro na pensão de Dona Fulô.” O clima pesou um pouco. Nina evitou o salaminho. Mas Garganta não perdeu a viagem: “Vera, você mexe com o quê?”

O humor presente em carne e osso, muito mais carne do que osso, não perdia a timidez nem a inocência primaveril: “Mexo com os quadris”.

Resolveram falar sobre o horário eleitoral gratuito. Bobagem ficar perdendo tempo com as estações do ano.

“Prefiro o verão”, disse Nina, morena que encostou-se à mesa um dia para pedir fósforos e nunca mais abandonou a turma

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